segunda-feira, 16 de novembro de 2009

SEMENTES ANÁRQUICAS

Animais civilizados?
Estava eu conversando com minha mãe a respeito da minha ideologia e a maneira que a pratico. Disse a ela que às vezes encontro pessoas que sei que não entenderiam minhas idéias e por isso eu deixo de tentar conscientizá-las. Minha mãe disse que isso estava errado, pois isso seria uma maneira preconceituosa de pensar e de agir, que o certo seria eu jogar as sementes da anarquia

aos ventos e esperar para ver os frutos que seriam colhidos. Ou seja, eu deveria conversar com todos sobre isso, mesmo que não desse em nada, pelo menos eu teria tentado.

Não é difícil convencer as pessoas de que as coisas estão erradas, que precisam mudar.
O difícil é convencer de que NÓS, incluindo elas precisamos mudar. Mudar nossas atitudes, nossa maneira de ver, de entender, de agir e então mudar tudo, chegando assim a tal Revolução Social.

Queria eu poder oferecer um mundo diferente dessa podridão em que vivemos. Mas tal mundo não existe. Por isso humildemente peço ajuda para construí-lo.
O problema é que nem todos estão dispostos a agir. Se as pessoas acham que é uma perda de tempo panfletear ou conversar com outras pessoas sobre esse assunto imaginem quantas são as pessoas que estão dispostas a pegar num fuzil. Quase ninguém.

A culpa não é dessas pessoas. Eles foram criados num ambiente individualista, a eterna competição do capitalismo maldito. Cada um por si. Não conhecem a solidariedade nem a fraternidade, e nunca irão provar do doce sabor da tão sonhada liberdade.

Cabe a nós tentar puxar essas pessoas alienadas para o nosso lado, a esquerda radical, a anarquia. Convence-los a mudar não é fácil, sempre existe algo que os prende ao capitalismo. Alguns são cabeças-duras mesmo e não vão mudar nunca. Os meios que o sistema aliena e cega as pessoas são inúmeros, desde as igrejas até os comerciais nos Outdoors, passando pelos comerciais de telelixo, verdadeiras lavagens cerebrais causando lobotomia em todos os cidadãos. Nossa sociedade vive num estado de lobotomia geral.

“Você já não vale mais!
Você já não pensa mais - Não!
O sistema te venceu
Traçou seu caminho
Te ensinou a não viver

Lobotomia geral
Liberdade condicional - eu sei!
Crucificados por padrões
Inconsciência coletiva
São todos iguais a você

Criou suas bandeiras
Demarcou fronteiras
Seus inimigos, quem sâo?
Lobotomia geral!”


Uma vez um grupo de cientistas prendeu cinco chimpanzés dentro de uma jaula e bananasno topo da jaula, instalaram aparelhos nos chimpanzés que davam choque.
Cada vez que um deles pegava uma banana todos eram punidos recebendo uma descarga de eletricidade. Logo um dos chimpanzés começou a bater em qualquer um que tentasse pegar a banana. Ele fazia isso por si e pelos outros, afinal mesmo que um deles estivesse faminto, se esse se pusesse a pegar a banana estaria machucando o restante do grupo, e alguém tinha que impedi-lo. O resto do bando começou a fazer o mesmo.
Cada vez que um tentava pegar as bananas era espancado pelos outros, assim ninguém pegava banana e ninguém tomava choque.
Os cientistas começaram a trocar um chimpanzé por semana. Tiravam um de dentro da jaula e colocavam um novo chimpanzé sem o aparelho elétrico. O chimpanzé novato logo que entrava na jaula tentava pegar as bananas e era espancado pelo grupo. Assim em alguns dias ele se acostumava a isso e também espancava qualquer um que tentasse pegar as bananas. Uma semana depois trocaram outro chimpanzé, e depois outro, e mais outro e assim foi até que não restasse nenhum dos primeiros cinco, os que tomavam choque.
E os chimpanzés que não tinham os aparelhos elétricos continuavam com a tradição de espancar qualquer um que tentasse pegar as bananas.

Vocês devem estar se perguntando o que isso tem a ver com a sociedade né?
Pois a princípio não tem nada.
Mas pode-se notar fatos curiosos em relação aos chimpanzés:
Um chimpanzé tomou a liderança, decidiu espancar qualquer um antes que ele pegasse a banana, assim ninguém tomava choque.
Os outros o seguiram, pois parecia uma boa idéia.
Os chimpanzés novos que eram colocados na jaula não sabiam que todos iriam ser eletricutados se algum deles pegasse as bananas.
Depois que tentavam pegar as bananas e eram repreendidos pela maioria eles decidiam se juntar a eles nessa “tradição”, mesmo sem saber o motivo do espancamento.

Primatas imbecis esses, obedecem as leis da maioria sem questionar. Se adaptam às tradições sem questionar sua raiz ou motivo.

Parace que a nossa sociedade se comporta como eles. Nossa! Logo os humanos que enchem a boca pra falar que são “civilizados”.

Muitas pessoas – acho eu – fariam o mesmo que os chimpanzés se estivessem no lugar deles.
Eu faria diferente. Acho que minha idéia seria bem melhor do que espancar qualquer retardado que tentasse pegar bananas.
Façamos um pacto, um acordo com todos os chimpanzés. Todos ajudam a pegar as bananas, todos seriam eletricutados mas todos receberiam as bananas. O que é isso afinal de contas? É uma forma de socialismo. Todos trabalham, todos são recompensados.
Assim não há a necessidade da repressão de um líder e/ou governo, ou da maioria.

É isso o que eu quero para a nossa sociedade. Mas se isso acontecer, não haverão mais pessoas ricas nem autoridades mas assim as pessoas que hoje não são ricas nem autoridades e querem ser não terão a oportunidade, pois viveremos numa sociedade igualitária.
As pessoas temem o anarquismo quando ouvem que nessa tipo de organização não há governo, polícia ou leis. Pensam elas algo do tipo “Sem leis a serem cumpridas, sem governo para cria-las e sem polícia para aplicá-las viveremos num caos, os ladrões vão roubar sem serem punidos por tais crimes!”.

Mas será que ainda haverá crimes? Porque as pessoas cometem crimes se sabem que correm o risco de ser punidas? E a respeito das leis, será que são tão úteis? Será que as leis ajudam mesmo? Será que a polícia é necessária? E o governo é útil, necessário?

Alguém acha que um bandido nasceu bandido? Ou será que ele é fruto de uma sociedade mal organizada e injusta? Será que ele rouba porque gosta ou será que rouba por necessidade?

Se um homem tiver um emprego que lhe proporcione um modo de vida confortável e digno não há motivos para ele se revoltar ou mesmo roubar. Então numa sociedade onde todos têm o que precisam ninguém vai precisar roubar, não haveriam crimes, logo a polícia se tornaria inútil.
Não haveriam mendigos nas ruas, pois eles teriam um lugar e uma função na sociedade, quanto mais pessoas trabalhando nela melhor. Melhor para todos não para uma meia dúzia de burgueses como hoje.
No Brasil a maioria dos “criminosos” são negros e pobres, escravos desde os primórdios da história do Brasil. Excluídos que não tiveram oportunidades oferecidas nem dignidade, pessoas que foram jogadas à margem da sociedade e entregues à criminalidade. O governo deveria incluí-los, esse é seu papel. mas alguém acha que o governo se preocupa com eles?

Pelo contrário, o governo os entrega à miséria, não os oferece oportunidades de ganhar algo nessa vida, a burguesia cria falsas necessidades de consumo, a sociedade os exclui do convívo social por eles não terem os itens de consumo, eles são excluídos, massacrados e viram bandidos.
Viram marginais com ódio no coração e uma necessidade selvagem de sobreviver dentro do capitalismo. Não conseguem emprego, quando conseguem são mais explorados do que os outros por serem negros e pobres.
Já são vistos como marginais pelas “cidadãos exemplares”. Eles não têm nada a perder! Logo assaltam, matam, roubam, sequestram... assim eles incomodam os cidadãos que trabalham de forma justa e querem viver suas vidinhas perfeitas, então esses “cidadãos exemplares” recorrem ao Estado ou à burguesia para que esses se livrem desses criminosos e então eles possam viver sua vida perfeita.

Mas quem são esses “cidadãos exemplares”? São aqueles cidadãos que trabalham, pagam seus impostos, compram, votam e vivem sem reclamar na jaula do sistema, escravos passivos. A maioria é branca e nunca soube o quê é passar fome. É aquele tipo de pessoa que vira a cara pra não ver um mendigo na rua.

Mas porque o governo joga o povo na miséria? Pra ter alguma coisa pra combater. A pobreza e a criminalidade. Se não houvesse pobreza nem criminalidade o governo seria inútil, então o povo – talvez se caísse na real – poderia se organizar e destruí-lo. Mas os poderosos não querem perder seu poder, então eles recriam a miséria para serem úteis para o povo. E assim o ciclo vai continuar. Isso sem falar nos burgueses donos de empresas de segurança.
O sistema quebra suas pernas para te oferecer cadeiras-de-rodas. Mas você não pode conseguir uma do nada, você tem que trabalhar pra conseguir, então você aceita um emprego numa fábrica de cadeiras-de-roda e economiza dinheiro por um bom tempo da sua vida. Você se apaixona e se casa, tem filhos e todos têm as pernas quebradas pelo sistema, e você agora tem que comprar cadeiras-de-rodas pra todos. Mas é melhor trabalhar direito e obedecer o governo e o seu patrão, se não pode ir pra rua e então tchau cadeiras.
No final das contas você fabricou várias cadeiras-de-rodas para o seu patrão e ele vendeu tudo e lucrou horrores, você finalmente consegue as cadeiras para sua família e saem contentes por aí.
Agora vocês podem andar de cadeiras-de-rodas todos juntos e se sentem felizes com isso, mas poderiam estar andando com suas próprias pernas se não existissem burgueses donos de fábricas de cadeiras-de-rodas e um governo que te quebra as pernas...
É assim que o sistema escravisa as pessoas.
Você tem que trabalhar para feliz sobreviver dentro do capitalismo, pois para ser precisa estar incluído e para ser incluído precisa consumir a praticar costumes estranhos. Para isso precisa de dinheiro, para ganhar dinheiro você tem que obedecer às leis do sistema. Você tranalha numa empresa de um burgês, passa o quase o dia inteiro lá, não tem tempo pra nada. Oito horas de trabalho, oito de descanso e oito de lazer... não é bem assim.
Você trabalha oito horas no seu local de trabalho, alguns levam trabalho pra casa, outros fazem hora extra, isso dá muito mais de oito horas de trabalho, como seu dia tem vinte e quatro horas essas horas que você trabalha a mais são tiradas ou das oito de descanso ou das de lazer. Essas dezeseis horas de não-trabalho são o tempo de você se preparar para ir trabalhar e de descansar do trabalho. Então sua vida gira em torno de seu emprego. Não tem tempo pra lavar suas roupas, para arrumar a casa, para cozinhar, para cuidar de sua família, para se divertir... mas não se preocupe, o sistema te ajuda a viver! A burguesia cria empregos para que outras pessoas façam o que você teria que fazer pra viver. Eles te oferecem os serviços, te oferecem comida pronta, te oferecem maneiras de lavar as roupas e todas as outras maneiras de suprir necessidades que se tem hoje em dia nessa vida de consumo.
No final das contas você está trabalhando pra nada, pois seu salário vai todo pra suprir necessidades que o sistema implantou na sua vida, assim é só uma maneira de te manter trabalhando quieto e sem pensar. Pois se um funcionário está trabalhando o dia inteiro ele está obedecendo ordens, e se está obedecendo não está pensando por si. Claro, salva-se raros casos em que o funcionário e o patrão pensam do mesmo modo, nesse caso o funcionário também está fazendo o que quer e não só o que o patrão manda.
Mas se o homem está entregue ao ócio, ele está livre para pensar, pois não há nenhuma força autoritária sobre ele, assim sendo ele pensa por si, e vê as coisas da sua maneira, se ele vê problemas ele tentará resolvê-los, coisa que o funcionário não faz, pois esse é pago para obedecer ordens do patrão e só tentará resolver problemas se essa for sua função. Então cabe ao ocioso resolver os problemas criados pela burguesia, pelo governo e por todos os outros donos do poder. Como diz na música dos Replicantes “resolver os problemas do mundo é coisa de vagabundo.”. Nós tentamos resolver. Mas as vezes os funcionários atrapalham nossa empreitada, pois se lutamos contra a burguesia e os empregados trabalham para eles, eles se tornam uma pedra em nosso caminho, claro que os funcionários adorariam ter melhores condições de trabalho e menor carga horária. Mas nem todos estão dispostos a lutar por isso e acabam apoiando mas não agindo, de maneira que essa atitude nada mais faz do que sustentar a posição da burguesia. Posição de exploração e de opressão. Se os funcionários nada fizerem, nada poderemos fazer por eles. Não podemos libertar escravos que não querem a liberdade.
Alguns desses funcionários e escravos não querem a liberdade por que não sabem como consegui-la ou não sabem que ela pode ser conseguida. A esses devemos ensinar a se libertarem. Disseminando nossas sementes anárquicas.
Claro que nem todos são campos férteis, onde as sementes renderão mudas. E a maioria vai demorar pra enxergar que o melhor caminho a ser trilhado é o caminho da anarquia, da auto-organização das massas, da autogestão dos trabalhadores, da ação direta contra os opressores, da solidariedade, da ajuda mútua... o caminho da liberdade e da igualdade, o caminho que nós oferecemos de maneira humilde e que quase sempre é desprezado pelos que tentamos ajudar. Os campos mais férteis são os campos mais oprimidos e explorados, ninguém espera que um homem que esteja a apenas um cargo de se tornar dono da empresa se torne anarquista, mas o funcionário da limpeza que trabalha o dia inteiro limpando o banheiro, esse sim. E esses são maioria. E é nesses que as mudas crescerão e que se transformarão em grandes árvores libertárias e de seus galhos nascerá a mais doce de todas as frutas, a liberdade.

Somos acusados de sermos violentos, agressivos e até cruéis. E somos mesmo, mas somente com os que oprimem, exploram, escravizam e se orgulham disso. Opressores não são apenas os burocratas que vestem terno e gravata. Há opressores políticos e também há opressores sociais, que desprezam e oprimem os que pertencem às classes “inferiores” às deles.
Mais um caso de oprimidos que oprimem para não se sentirem oprimidos. Os que defendem opressores se tornam opressores passivos, e serão tratados da mesma maneira violenta, agressiva e cruel.
Opressores passivos cuidado!

Murilo Gelain



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