segunda-feira, 16 de novembro de 2009

LIBERDADE INDIVIDUAL E COLETIVA, ANARQUIA E SOLIDÃO

Anarquia no mundo atual envolve solidão. Aliás, a própria anarquia envolve solidão. Algumas correntes anarquistas acreditam que a liberdade plena e total só pode ser alcançada de maneira individual, ou seja, cada um deve se libertar sozinho.
Eu concordo em parte, mas que essa individualidade não se torne egoísmo e egocentrismo, pois isso traria sérias conseqüências para a sociedade.
De fato, a liberdade plena e total, na minha visão, só será conquistada de forma individual, pois não se pode obrigar ninguém a se libertar, esse deve querer a liberdade e correr atrás dela. Tudo que nós podemos fazer é guiar o indivíduo rumo à liberdade, sugerindo caminhos.
Mas nós também não somos livres, pois ainda vivemos numa sociedade cheia de regras, isso sem falar do governo que é quem mais nos impõem leis. O Estado é “livre” para nos impor leis, ninguém reclama, pois acham que isso é certo. O Estado é o poder, e esse poder nos é imposto em nome do bem-estar de quem impõem.
Quem você pensa que é feliz, aquele que manda ou aquele que obedece?

Os anarquistas nada são além de escravos que lutam por sua liberdade, são servos que lutam contra seu senhor, subordinados que não querem chefes. Tudo que queremos é que ninguém nos diga o que devemos ou não fazer.

Uma sociedade livre será composta por indivíduos livres. Se todos forem livres, todos serão iguais e se todos forem iguais, ninguém terá o direito de intervir na vida de ninguém.
Logo, se todos forem iguais todos serão livres e vice-versa.
Uma sociedade livre é difícil de ser imaginada por qualquer um que aqui vive. Uma sociedade sem grades, sem paradigmas, sem preceitos, sem preconceitos, sem leis ou regras a serem seguidas. Alguns imaginam que sem leis estaríamos fadados a viver em eterno caos e baderna, mas, já vivemos nesse caos. Como chamam o fato de pessoas morrerem de fome com tanta comida sendo produzida? Tantas pessoas jogadas à miséria com tantas riquezas produzidas? Tanta violência nas ruas? Não se pode sair sem levar o medo e a insegurança de casa. Não se pode viver sem competir de maneira individual e egoísta. No capitalismo o que manda é o dinheiro e esse é egoísta.

Eles dizem que não há para todos, que alguns terão e outros não. Por isso cada um deve pensar só em si e buscar o sucesso de maneira individual. O nosso sucesso, o sucesso anarquista, é a liberdade e a igualdade. Isso nos exclui, pois o sucesso capitalista é a riqueza, o acúmulo de capital. E isso para nós é desprezível, as pessoas que assim pensam também são desprezíveis. Esse pensamento é o pensamento burguês, e é contra a burguesia que lutamos. A sociedade está tomada por esse pensamento, por isso a sociedade atual é uma sociedade burguesa.

A liberdade individual nada mais é do que o poder de fazer o que se quer ou não. Sem que te digam se deves ou não fazer isso ou aquilo. Ser, fazer, pensar, falar, viver. Mas a liberdade às vezes é perigosa nas mãos de quem não sabe utiliza-la de maneira correta e benéfica. Nas mãos daqueles que querem fazer o mal aos outros.
No contexto anarquista, o limite da liberdade de um indivíduo é a liberdade do outro. Assim todos poderíamos fazer o que quiséssemos desde que nossas atitudes não interferissem na liberdade do nosso próximo, a liberdade anarquista deve ser conquistada em conjunto com o respeito, bom senso e disciplina. Pois se não haverá ninguém nos dizendo o que deve ser feito, nós mesmos deveremos nos dizer o quê e como deve ser feito.
Deveremos pensar, fazer e agir em conjunto e harmonia com todos os outros indivíduos que comporão a sociedade justa, igualitária e libertária, a sociedade coletiva. Mas não devemos deixar que a opinião e vontade dos outros interfiram na opinião individual. O indivíduo sempre terá o poder de se expressar e opinar, mesmo que sua opinião ou vontade não seja igual à opinião coletiva. A opinião do indivíduo deve ser respeitada pelo coletivo, isso se a opinião dele não agredir a opinião de outro, nesse caso, o coletivo deverá tomar uma atitude repressora, discutida em consenso.
Diferenças serão respeitadas desde que essas diferenças também sejam respeitosas. Qualquer pensamento que seja em qualquer forma agressora da liberdade e igualdade do coletivo ou individual não é um pensamento anarquista e colocará em perigo toda a harmonia da sociedade libertária e igualitária.

Organização Social:
Imaginem que o mundo foi transformado, todos vivem em comunidades organizadas de maneira comunista/anarquista, essas comunidades são federalistas, várias unidades integradas e unidas formando um grande organismo, não há uma organização imposta de cima pra baixo e sim uma rede. Não há mais governos ou qualquer tipo de classe dominante, os meios de produção e distribuição são controlados pelo próprio povo, ele que decide o quê deve ser ou não produzido e isso é feito de acordo com as necessidades do próprio povo. Todos os indivíduos da sociedade têm emprego e uma utilidade para com o social. A carga horária de trabalho é baixa, não sobrecarregando ninguém, em torno de duas ou três horas diárias, dependendo da disposição do trabalhador e da necessidade da labuta. A produção agrícola e industrial é formada por cooperativas, todo e qualquer tipo de lucro é dividido de maneira igualitária por aqueles que participaram da sua produção, as cooperativas produzem apenas o necessário para cessar a demanda, se algo sobrar, os excessos serão enviados ás ISs. Instituições Solidárias ajudam aqueles que precisam de alguma coisa. Essas instituições são abastecidas pelos excessos das cooperativas produtoras de alimentos e bens de consumo como roupas, sapatos etc. Igrejas existem, porém o ateísmo é ensinado nas escolas, mas isso não impede que aqueles que acreditem em força divina exerçam sua fé, o cristianismo puro é em si anarquista. Os meios de comunicação são controlados pelo povo, programas de TV, rádio e imprensa, a mídia tem como único e principal objetivo educar e informar o povo. Em cada bairro existe uma comissão formada por delegados formados por voluntários ou então eleitos pelos moradores, seu mandato de delegação pode ser retirado se assim os moradores quiserem, os delegados têm como única função transmitir e representar as vontades, desejos e necessidades dos moradores. Eles não podem influenciar na decisão, são apenas os porta-voz dos moradores, não tem poder nenhum para mudar o que foi decidido. Cada bairro com sua comissão e moradores integra uma rede formando uma cidade, as cidades também se integram e formam Estados, os Estados se mantêm integrados uns aos outros. Ninguém é obrigado a nada, nem a trabalhar, porém os ociosos não receberão nada mais do que o necessário para sua sobrevivência, isso se os que trabalham desejarem. Na educação, desde os primeiros ensinamentos até a formação acadêmica as informações e ensinamentos são feitos de maneira não-repressiva e libertária. Crianças aprendem desde cedo virtudes como respeito a diferenças, humildade, solidariedade, cooperação e coletivismo, tudo que é ensinado nas escolas é em benefício da liberdade do indivíduo e harmonia com a sociedade. Sociologia e filosofia são ensinadas no ensino fundamental e médio de maneira que essas duas disciplinas são reforçadas. Pedagogia libertária desde os primeiros passos faz com que as crianças libertem-se de possíveis dogmas ou preceitos. No nível acadêmico os cursos com maior número de vagas são os de maior necessidade social no momento. Os indivíduos terão empregos nos seus próprios bairros ou então por perto de sua casa, assim poderão ter mais controle sobre sua área e não precisarão ir muito longe para trabalhar. Cada bairro formará seu próprio conjunto de leis, e essas servirão unicamente para melhorar a convivência no bairro. As leis serão criadas pelos moradores e votadas, somente as que tiverem total aceitação serão aplicadas, de resto, as que não foram totalmente aceitas, deve-se discutir até que um lado ceda. Se acontecer de um morador não concordar com uma lei que lhe foi aplicada ele tem a chance de tentar mudar essa imposição conversando com os outros moradores ou então mudar-se.

Obviamente essa forma de organização não é perfeita, ela foi criada por mim com base em algumas outras formas dos pensadores clássicos do anarquismo. Ela pode ter falhas e deve ser aprimorada, é apenas uma base na qual devemos erguer as cintilantes torres da liberdade. Ninguém será obrigado a viver numa sociedade assim, aquele que não quiser que vá se organizar de outra forma, mas duvido que alguém aceite viver submisso em qualquer outra forma de organização depois de ter provado do doce sabor da liberdade.



FAP- FEDERAÇÃO ANARCO PUNK

Nenhum comentário:

Postar um comentário