quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

ANARQUISMO: UMA QUESTÃO DE PALAVRAS
– De onde veêm as palavras “Anarquismo” e “Libertário” –

A palavra anarquia é tão velha quantos o mundo. Deriva das antigas palavras gregos “an”, “arkhe”, e significa algo como ausência de autoridade ou do governo. Contudo, durante milênios acreditou-se que o homem não poderia passar sem ambos e, a “anarquia” têm sido entendida de modo pejorativo, como sinônimo de desordem, caos ou desorganização.
Pierre - Joseph Proudhon, ???? por suas frases chocantes (como “a propriedade é um roubo”), se apropriou da palavra anarquia. Como se seu objetivo fosse impactar as pessoas o máximo possível, em 1840 criou o seguinte diálogo com o personagem “Filisteu”:
– “És um republicano?”
– “Republicano, sim; mas isso não significa nada. Res publica é o Estado. Os reis também são republicanos.”
– “Ah, bom! És um democrata?”
– “Não”
– “Como! És talvez um monarquista?
– “Não”
– “Constitucionalista, então?”
– “Por Deus!”
– “Então, és um aristocrata?”
– “Em absoluto!”
– “Queres alguma forma mista de governo?”
– “Menos ainda!”
– “Então, o que és?”
– “Um anarquista.”

As vezes, Proudhon fazia a concessão de escrever “an-arquia”, para dificultar as confusões criadas pelos adversários. Por esse termo, entendeu qualquer coisa menos desordem. Aparências a parte, ele era mais construtivo do que destrutivo, como vieremos. Considerou os governos como responsáveis pela desordem e acreditou que apenas uma sociedade sem governo poderia restaurar a ordem natural e voltar à harmonia. Argumentou que o idioma não poderia alojar outro termo e decidiu devolver à antiga palavra “anarquia” seu significado etemológico estrito. No calor de suas polêmicas, porém, abstinada e paradoxalmente, ele usou a palavra anarquia em seu sentido pejorativo de desordem, convertendo a confusão em perplexidade. Seu discípulo, Mihhail Bahumin, o acompanhou neste sentido.

Proudhon e Bahunin experimentaram um malicioso prazer de brincar com a confusão criada pelo uso dos significados ??? da palavra: para eles, anarquia era tanto a desordem mais colossal, a desorganização mais completa da sociedade e, mais além, uma gigantesca mudança revolucionária, a construção de uma nova, estável e racional ordem baseada na liberdade e na solidariedade.
Os seguidores imediatos dos “pais da anarquia” vacilaram em utilizar a palavra de maneira tão deploravelmente elástica, que produziria uma idéia negativa aos não iniciados e se prestava a ambigüidades. Proudhon, inclusive, chegou a ser mais cauteloso ao fim de sua breve trajetória e era feliz autodenoninando-se “federalista: Seus seguidores pequenos burgueses preferiram o termo mutualismo a anarquismo e, a linha socialista, adotou coletivismo que foi rapidamente substituído por comunismo.
No final do século XIX, na França, Sebastien Faure retomou uma palavra, originada em 1858 por Joseph Dejacque, para utiliza-la como título de um periódico: “O Libertário”. Atualmente, os termos “anarquista” e “libertário” chegam a ser intercambiáveis.

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* Saudações Libertárias *

Muito foi escrito e ainda vai ser, na tentativa, de definir o movimento punk. Nesse artigo vamos tentar dar a nossa definição, mas de forma alguma queremos dizer que a nossa é a verdadeira e incontestável. Trata-se apenas uma definição baseada em alguns de militância no movimento punk e de análise pessoais.

A princípio, deve ficar claro que o PUNK é um movimento exclusivamente contra-cultural de contestação e confrontamente ao sistema, a sociedade ???? e aos valores capitalista. Essa contra-cultura se baseia numa apresentação visual “desajustada”, na nossa música na nossa arte em geral, e principalmente, na nossa forma de viver o mundo. É uma resposta à realidade institucionalizada, das grandes metrópoles, e às injustiças e brutalidades cometidas pelo mundo a fora.

É óbvio que pelo próprio fato de a cultura punk ser uma cultura de confrontamento, naturalmente algumas ideologias e filosofias políticas radicais de oposição ao capitalismo acabaram sendo absorvidas por diversos segmentos do movimento. Como exemplo de algumas dessas ideologias, podemos citar o anarquismo, o niilismo e, também muito difundido na cena de alguns países da América do Sul, uma espécie de esquerdismo socialista radical (algo semelhante ao guevarismo), provavelmente influenciado pelo ideário das guerrilhas locais. A existência dessa diferentes correntes de pensamento e até a inexistência de qualquer uma delas, não é um problema em si, pelo contrário, prova que a dinâmica interna é muito boa e ressalta a importância da autonomia pessoal de interpretação do próprio movimento, não exigindo programas, cartilhas, filiação ou coisas do gêneros; o problemas vem exatamente quando determinados setores ou grupos entendem que apenas as suas posturas, práticas e ideologias é que são “verdadeiras”, considerando automaticamente as outras como falas e que portanto devem ser ignoradas e até combatidas em nome de uma “purificação” do movimento. O que queremos dizer é que em termos de posturas, práticas e ideologias, o movimento punk assume duas promessas básicas: o não-comercialismo e o anti-autoritarismo (variando aí as concepções particulares do que se entende por não-comercialismo e anti-autoritarismo), qualquer tentativa de atrelar todo o movimento à essa ou àquela postura, prática ou ideologia é tambému uma tentativa autoritária de limitar as potencialidades desse movimento.

Nosso movimento é imensamente diversificado em todas as suas características: existem punks de visual extrenso e outros que não se consegue identificar como tal pela aparência, existem punks exclusivamente atraídos pelos mais “sujo” grind/noise core e outros exclusivamente atraídos pelo mais básico e tradicional punk rock 77, existem punks diretamente ligados à militância revolucionária dentro e fora da cena e outros que não possuem nenhum interesse por nenhum tipo de atividade ligada ao movimento ou à causa revolucionária. É nessa diversidade, nessa verdadeira “babel” que está a riqueza do PUNK. O principal erro é encarar o movimento punk como algo fechado, homogêneo, como um movimento político com diretrizes únicas definidas, quando na verdade ele é algo muito amplo e heterogêneo.

Dentre todas as vertentes do movimento, uma nos interessa em espeical por ser provavelmente a mais complexa e por nos enquadramos nela, vamos tentar comentar e fazer uma análise sobre o ANARCO-PUNK.

Anarco-punk é por definição aquele indivíduo, banda, publicação, coletivo ou demais organizações que associam à rebelião contra-cultural punk, a ideologia anarquista, e por sua vez o movimento anarco-punk é o conjunto desses indivíduos, bandas, publicações, coletivos e demais organizações, Acontece que mesmo dentro do movimento anarco-punk existe uma grande diversidade, da mesma forma como são diversas as interpretações do anarquismo e as práticas anarquistas, também são diversas as associações dos diferentes anarquismos com a contracultura punk. Temos todos que aprende a conviver com as diferenças sem precisar impor aos outros as nossas concepções, não se pode exigir todos os anarco-punks que militem em movimentos sociais e nem pelo contrário, exigir que todos se limitem a militar no interior da cena underground. Não podemos é por ignorância nos achamos melhores ou piores que os demais companheiros não-punks que estão na militância anarquista, criar uma rivalidade entre punks e anarquistas não-punks por mais que seja esse o desejo de alguns grupos de ambos os lados, é um erro não só existencial mas também estratégico, pois quanto mais divididos e em conflitos estivermos, mais fácil será derrubar-nos.

Mas não podemos deixar de dar o merecido valor ao movimento punk, nós sabemos do nosso potêncial e nunca devemos nos esquecer de nossas raízes. Pense bem: quantos grandes revolucionários do presente e o futuro começaram, estão começando ou começarão suas trajetórias de luta através do movimento punk?

Depois de muito refletimos e analisamos, decidimos soltar esse documento como uma proposta de debate reavaliação do que se entende e do que é colocado na prática no Brasil em termos de Anarco-punk.

Segundo a definição que colocamos anteriormente, anarco-punk é todo e qualquer indivíduo ou coletividade que associe a contra-cultura punk à ideologia anarquista e assim o é em todo o mundo, e por que não aqui?

Durante vários anos alguns grupos por todo o Brasil se auto-proclamavam o movimento anarco-punk (e alguns ainda o fazem) a despeito de todos os outros punks anarquistas do país. Bem, como pode sendo MOVIMENTO ANARCO-PUNK todo o conjunto de indivíduos e coletividade punks anarquistas, uma pequena parcela de todo esse universo se denominar o movimento anarco-punk?
Sob a sigla de “MAP.” esses grupos se relacionavam e ainda se relacionam numa espécie de “federalismo informal”. Na nossa visão está perfeitamente bem que esses grupos se federalizem e se relacionam por todo o país, mas ao se proclamarem o movimento anarco-punk eles fecham toda uma concepção ampla em si mesmos, fazendo entender que todos os outros punks de ideologia anarquista (anarco-punks) que não fazem parte de seus grupos ou de seu “federalismo informal” são qualquer coisa menos anarco-punks.

Assim como o movimento punk e o movimento anarquista, o movimento anarco-punk é extremamente amplo e heterogêneo (diversificado); da mesma forma como os anarco-sindicalista ou os anarco-coletivista não podem se reinvindicar o movimento anarquista ignorando os anarco-comunistas por exemplo, uma parcela de anarco-punks não pode se reinvindicar o movimento anarco-punk ignorando todo o resto, isso no mínimo é uma atitude autoritária que nos lembra a postura vanguardista de alguns partidos de esquerda.

Não estamos com esse documento querendo “crucificar” ou responsabilidadar todos os individuos que fazem parte do “M.A.P.” por esa situação, na verdade esse documento é um apelo à consciência e capacidade pessoal de cada um de poder se auto-questionar e abrir a mente para novas concepções e criarmos todos juntos uma nova realidade.

O movimento anarco-punk é um movimento intenacionalista e de proporções mundiais, por isso mesmo não pode possuir dogmas nem verdades absolutas pois cada povo que o assimila acaba incorporando ao movimento uma certa carga de identidade cultural própria desse povo e da situação em que ele vive. Não é preciso dizer que o movimento anarco-punk na Espanha e nas Filipinas por exemplo não são idênticos e nem tampouco as preoupações da militância dessas respectivas cenas. Temos que pensar que cada realidade é uma realidade, se por exemplo a militância anarco-punk de alguns países da Europa está mais voltada para a defesa dos direitos dos animais, já no México por exemplo, essa militância tem uma boa participação no apoio às ações do EZLN só para citar um único exemplo, toda militância tem sua importância e não nos cabe considerar o seu valor maior ou menor, tudo varia do ponto de vista pessoal; como toda militância é válida temos que considerar que a atuação política interventiva é mais uma forma de militância, assim como é o simples fato de tocar em uma banda ou editar um fazine para divulgação de nossos ideais e de nossa cultura. A adoção de determinadas posturas como únicas “verdadeiras” é que são o problema como dissemos anteriormente, como por exemplo: a postura do D.I.Y., o veganismo, e etc., não podemos dizer que nenhuma dessas posturas são as únicas que são realmente “verdadeiras” pois isso varia de concepção e ninguém é menos anarco-punk por não ser vagan por exemplo. De acordo com tudo isso estamos trazendo a seguinte proposta:

*Nenhum grupo ou organização que seja, tem o direito de se reinvindicar o MOVIMENTO ANARCO-PUNK, pois isso não passa de uma atitude autoritária que não cabe mais na realidade em que vive o movimento punk atualmente no Brasil. Basta, cada grupo tem o direito de assumir a postura que quiser, seja ela o mais sectária que for desde que esse grupo se assuma como apenas mais um grupo e não como o MOVIMENTO ANARCO-PUNK, cabe a todos nos, o conjunto dos anarco-punks, impedir que qualquer grupo ou coletivo que seja utilize a denominação de movimento anarco-punk para se auto-definir, e o melhor método de fazê-lo é o mais simples não-reconhecimento de tal denominação daqui para frente.

Gostariamos que esse debate fosse discutido, o mais amplamente possível (inclusive pelos membros dos grupos que hoje se denominam “M.A.P”), para que possamos num futuro próximo todos vivemos nosso movimento num ambiente de companheirismo e não de guerra declarada.

“O movimento punk nunca há de morrer”

Este material está plenamente aberto a
divulgação e republicação

Coletivo anarco-punk Contraste.

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KROPOTKIN E LENIN
“Quem diz ser parteiro, afoga o que luta para nascer!”

Pedro Kropotkin decidiu regressar à Rússia em 1917, pouco depois de alcançarem a Europa os primeiros indícios da grande revolução que se avizinhava. Tinha 75 anos (43 dos quais passados no exílio) quando enfrentou a penosa viagem e as dificuldades do momento revolucionário. Havia levado demasiados anos desejando este momento, lutando por este instante, colaborando com o titânico esforço do povo russo para romper as correntes que o oprimia.

Desejava participar da insurreição geral, ainda que cons-ciente de sua impossibilidade física para integrar-se plena-mente às duríssimas condições de luta e à tensão cotidiana em que viviam os anarquistas mais jovens. Contudo, como tantos outros revolucionários da-quele momento, Kropotkin con-siderou que por trás do levante popular de fevereiro e outubro de 1917, se oferecia a ocasião de se levar a cabo o velho sonho revo-lucionário de um novo mundo, sem estado, sem exploração.

Sua primeira atitude perante o golpe de estado bolchevique de outubro foi um silêncio alerta. Ainda que se opondo profunda-mente à filosofia política mar-xista, abominando seu culto ao estado, Kropotkin, a princípio, se eximiu de criticar os bolchevi-ques. O “silêncio” de Kropotkin durante aquele inverno só era in-terrompido pelas cartas a seus amigos, e nas reuniões com os anarquistas que o visitavam: Vo-line, Emma Goldman, Berkman, Maximov, Makhno, ... todos estes agentes ativos daquela ex-traordinária maré revolucionária.

No entanto, aquela “confian-ça” inicial outorgada ao bolche-vismo se quebrou ao primeiro choque com a realidade. Foi durante aquele gigantesco incêndio revolucionário que Kropotkin, já no final de sua vida, comprovou, com amargura, como estavam se cum-prindo suas mais temidas predições sobre as conseqüências de se adotar a via autoritária e política para o confronto com o capitalismo e a opressão.

Contudo, no início de 1918, ainda não havia sido vencido pelo desânimo, velho lutador, não cedendo no seu intento de mudar o curso da história, agora através de seus escritos e de suas reflexões. Mas a realidade era dura e o autoritaris-mo se expandia como uma praga, convertendo os lemas revolucionários em slogans que ocultavam toda a crueldade da nova ditadura contra o povo trabalhador. Nos primeiros meses de 1918 aumentaram as críticas dos anarquistas contra o rumo que os bolcheviques impunham à revolução. Em abril, começou uma perseguição sem quartel contra os libertários e os socialistas revolucionários. As prisões, cas-tigos e execuções sumárias de anarquistas foram constantes ao longo daquele difícil ano e no começo do seguinte.
Foi nesse contexto que Kropotkin recebeu, no início de maio de 1919, o convite para uma entrevista com Lenin, na residência de um colaborador do governo bolchevique. A conversação se centrou imediatamente na questão das organizações de base (cooperativas, comunas, associações, soviets) e seu papel no processo revolucionário. Para Kropotkin, este era o problema. Para Lenin, uma questão insignificante ante a “enorme e absorvente atividade que impunha o movimento gerado pela revolução de outubro”.

Ambos estavam conscientes do abismo que os separava. Um deles, mais velho, falava da revolução ainda possível. O ou-tro, mais jovem, já havia renun-ciado a ela em nome do novo estado. O ancião avisava sobre a “fatalidade de uma evolução que, seguindo desde sua origem linhas falsas, só poderia conduzir ao fracasso e à reação”. Lenin dis-cursava apaixonadamente sobre vitórias, sangue, massas, terror vermelho, “até uma guerra de todos contra todos, esse o único tipo de luta que pode ser assumi-do com êxito”, as demais são in-significantes, jogos de crianças. Kropotkin que bem sabia que “na-da pode ser conseguido em nenhum país, sem a mais deses-perada luta”, já demonstrava um profundo desinteresse por aque-la retórica encobridora.

A entrevista não teve mais efeito prático do que dramatizar o abismo que separava, não a duas pessoas, senão a dois modos de compreender o momento que protagonizavam. O organizador da entrevista, Bonch-Bruevich, captou bem aquele episódio e disse de cada um: “Observei Lenin. Seu olhos brilharam um pouco irônicos quando escutava Kropotkin...” e “Kropotkin, que ouviu as veementes palavras de Lenin primeiro aten-tamente, depois foi desinteressando-se”.

Os dois nunca mais voltariam a se ver, ainda que Kro-potkin tenha escrito várias cartas a Lenin, onde denunciava a impossibilidade de se construir uma nova vida a partir da ditadura estatal e da ilimitada autoridade que faz uso o Partido. Um ano e meio mais tarde, em janeiro de 1921, morria Pedro Kropotkin. Um imenso cortejo de mais de cem mil pessoas seguiu o féretro até o humilde túmulo que o velho revolucionário havia escolhido.
M. GENOFONTE

Traduzido e adaptado pelo Coletivo de
Tradução do CELIP, extraído de La Campana,
nºs 49 e 50, maio/97

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