quarta-feira, 25 de novembro de 2009

anarquia é uma linda ideologia

rato

letra da banda invasores de cerebro

Invasores De Cérebros

(Ariel)
Nós somos da cidade de São Paulo há onde o Punk é pra
valer
Aonde você vai morrer onde a noite é das gangs
Nas esquinas das quebradas, no baile da cidade, no
clube da pesada
SP onde o Punk é pra valer
Em SP tudo pode acontecer
Em SP onde você vai morrer, vai morrer, vai morrer

Isso é porque nós somos da cidade de São Paulo há onde
o Punk é pra valer
Aonde você vai morrer onde a noite é das gangs
Nas esquinas das quebradas, no baile da cidade no
clube da pesada
SP onde o Punk é pra valer
Em SP tudo pode acontecer
Em SP onde você vai morrer, vai morrer, vai morrer

São Paulo cidade perigosa
São Paulo cidade violenta

Vejam bem ao andar nas ruas de São Paulo
Mas muito cuidado ao andar por ruas e calçadas
Vocês podem ter uma grande surpresa

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Garotos do Subúrbio
Inocentes
Vagando pelas ruas tentam esquecer
tudo que os oprime e os impedem de viver
Será que esquecer seria a solução
Pra dissolver o ódio que eles tem no coração
vontade de gritar... sufocada no ar
O medo causado pela repressão
Tudo isso tenta impedir os garotos do subúrbio de existir

Garotos do subúrbio,Garotos do subúrbio
Vocês, vocês vocês não podem desistir
Garotos do subúrbio,Garotos do subúrbio
Vocês, vocês vocês não podem desistir de viver
DIGA NÃO A HOMOFOBIA ,DIGA SIM A LIBERDADE DE SE EXPRESSAR NO AMOR

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

ANARQUIA SUBURBANA

BANDA FORMADA NO MEADOS DOS ANOS 95 TEM COMO A FINALIDADE DIVULGAR A IDEOLOGIA ANARQUISTA .TEVE DIVERSAS MUDANÇAS E POR MOTIVO DE APARELHAGENS TEVE QUE PARAR DE ENSAIAR.NO MOMENTOS ESTA NA PROCURA DE BATERISTA PRA VOLTAR A TOCAR .
SEUS COMPONENTES SÃO :

MIZÃO :BAIXO
WALLACE:VOCAL
CHELTER:GUITARRA


contatos:


mizão

major oscar oliveira batista 81
caeira são pedro
cep27130070
e-mail:ANARQUIASUBURBANA@HOTMAIL.COM


punk, b.p

"vamos lutar contra o sistema opressor"
.

LETRA DA BANDA ULTIMA MARCHA

ÚLTIMA MARCHA
Prontos pra matar!
Prontos pra morrer!
Última Marcha - 5x

ARMA NÃO É NUTRIÇÃO

Armas e mais armas - 2x
Não é nutrição!

Enquanto o governo gasta
Milhões para fazer armas
Milhares de pessoas pobres
Esquecidas na desgraça

Armas, mais armas (2x)
Não é nutrição! (2x)

PROGRESSO DESTRUTIVO

Onde esta o progresso?
Será que está nas armas?
Será que está nas bombas?
Ou nas armas nucleares?
Progresso irracional e destrutivo (2x)

VIOLÊNCIA GRATUITA

Encosta na parede porra, é a Polícia!
Teu nome e documento, cara!
Que cê faz?
Vagabundo indigente você tem que apanhar
Se eu vê-lo novamente
Vou ter que te levar
Realmente é foda, é foda aceitar
Violência gratuita, violência militar

FORÇA ANTIFASCISTA

Força antifascista
Destrua os neonazistas - 2x

Negros, mulheres e homossexuais
Todos são vítimas desses animais
Bando de fascistas, nós vamos combater,
Porrada nos carecas, porrada é pra valer.

Força anti-racista
Destrua os neonazistas - 2x

ARMADOS DE ÓDIO

Armados para guerrear - 2x
Contra o opressor
Qualquer explorador...

Armados... armados de ódio !
Contra os fascistas exploradores.

OLHOS VEDADOS

Abra seus olhos
E comece a ver
Desespero e angústia
Dor e aflição
Abra seus os olhos para a realidade...
Abra seus os olhos... Ahhh!!!
Eles não podem aceitar
Massa explorada a pensar! - 2x

NÃO VOU À IGREJA

Vamos combater as igrejas fascistas
Nas páginas da histórias
Deixaram marcas de sangue

Eu não vou à igreja 4x

De oprimida passou a ser opressora
E agora onde está?
Dos lados dos ricos.

DESTRÓI

Destrua os governantes
E suas autoridades
Religiosas !

Unidos, nós vamos destruir

Destrua o Estado
E seus governantes
Exploradores !
Unidos, nós vamos destruir

RASTRO DA GUERRA

A realidade da guerra é sentida
Por quem a viveu,
Na mais pura tristeza
De sentimento e dor.

Realidade da guerra, sofrimento e dor
A guerra acabou, quem foi que sobrou?

DOMÍNIO HUMANO

É justo matar, para saciar?
Mas certos bastardos matam apenas por prazer
Muitos animais em extinção
Mas os caçadores matam todos sem perdão

Destroem o verde e destroem os animais
Quando irão deixar a natureza em paz? -2x

O verde virou cinzas em animal exposição,
Rios poluídos e florestas devastadas
O índio está sumindo com toda a sua cultura
É o domínio humano sobre a natureza

Destroem o verde e destroem os animais
Quando irão deixar a natureza em paz? -2x

CHACINAS

Seja bem vindo ao país do massacre,
Aqui já é rotina nos jornais e TVs
Quem aqui não se lembra
Do massacre da candelária?
Quem aqui não se lembra
Do massacre do Carandiru?

Que covardia, do Estado
Que covardia da repressão! 2x

No Brasil já virou moda
Extermínio é toda hora
Dezenas de pessoas são assassinadas
Pela polícia na madrugada

Que covardia ! 2x

Outros mais já aconteceram
E a justiça já os esqueceram
Bandidos e crianças e trabalhadores
São abatidos a tiros de metralhadoras
Que covardia! - 2x

Que covardia do Estado
Que covardia da repressão! - 2x

FARDADOS ARMADOS

Eles estão armados, para matar
Para espancar, bandos de agressores
Onde seu alvo são sempre os trabalhadores.

São arrogantes e andam armados
Não se confiem, tomem cuidado 2x

PM assassina, infames homens da lei
Instrumentos da repressão, se nutre da agressão

Arrogantes homens da lei
Somos explorados igual a vocês! 2x

Eles estão armados, para matar
Para espancar, bandos de agressores
Onde seu alvo são sempre os trabalhadores.

São arrogantes e andam armados
Não se confiem, tomem cuidado - 2x

CLARÃO DA BOMBA

A mancha negra do clarão da bomba
Caiu sobre a cidade indefesa.
A destruição, a máxima surpresa
Sob os escombros muitos restos mortais

Da iniqüidade estúpida da guerra 2x

Tudo acabado e destruído
Cinzas de ódio e destruição
Rastros de sangue corpos no chão
Choro e agonia de uma nação

Veja as conseqüências da guerra
Destruindo os ares da terra

SÓ MARCHAR

Foi você quem escolheu
Alistar no Exército para limpar fuzil
Foi você quem decidiu
Marchar o dia inteiro como imbecil

Só marchar - 2x
Além disso é só marchar

HAVERÁ FUTURO?

Bilhões de dólares são empregados
Pelos governos para fabricar
Armas mortais - 4x

Centenas de crianças, pobres famintas
Estão passando fome sendo esquecidas
Pelos governos - 4x

HOSPITAIS PÚBLICOS

Pessoas estão morrendo
Nas portas dos hospitais
Filas enormes pra entrar
As pessoas chegam a desmaiar
Hospitais públicos - 4x
Sistema decadente...

PIOR QUE UM ANIMAL

Animais são maltratados
Todo verde devastado
As cidades poluídas
Mares e rios contaminados
Pior dos animais
Age sem consciência! - 2x

SER HUMILHADO

Pra sociedade você vale o que tem
Se não tens você não é ninguém
Divididos e classificados
Porra, caralho,
Só pra ser humilhado

PISANDO NAS LEIS

Não acredito em suas leis
Leis impostas por animas
Na intenção de fazer nos aceitar
Na intenção de fazer nos calar.

Em seus benefícios nos impõem
Leis, deveres e regras opressoras
Para nos calar e poder explorar

VONTADE DE VIVER

Vivemos numa sociedade
Autoritária e capitalista
Onde os meios de produção
São de posse do teu patrão

Sociedade suja e machista
Cheio de ódio e de ganância
Onde impera a violência
Miséria, fome e repressão.

Sociedade! Vontade de viver (2x)

Se você tem vontade de viver
Lute com sua força pra sobreviver!

PUNK É ATITUDE

Punk, Punk, Punk, Punk

Punk da cidade, punk do subúrbio
Punk de moicano, punk eriçado

Punk comodista, punk anarquista
Punk porra louca, punk visual!

Tente apenas identificar
A maneira que melhor agradar
Só não esqueça que você é uma atitude
Contra o Sistema e todas suas leis.

Punk, Punk, Punk, Punk
Punk, é protesto, Punk é cultura
Punk é liberdade, atitude é anarquia!

PARASITAS SOCIAIS

É época eleitoral
E agora eles estão de volta

Parasitas sociais,
Vão se fuder e voltem nunca mais!

Vote nulo, dê as costas
E diga não como resposta.

Parasitas sociais,
Vão se fuder e voltem nunca mais!

POBRES ANIMAIS

Eletrocutados, dissecados
Maltratados, enjaulados
São torturados - 4x
Nos laboratórios
Nos rodeios
Nas touradas
Nos zoológicos

São torturados - 4x

Pobres e indefesos animais

NÃO CONSIGO ENTENDER

Ódio, guerras entre raças!
Não consigo entender! - 2x

PAZ ENTRE NÓS,
GUERRA AOS SENHORES

Os poderosos!
São unidos para continuar a explorar
Eles nunca farão nada,
pra poder se desestruturar

Paz entre nós, guerra aos senhores! - 2x

Criaremos uma consciência coletiva
Fortalecendo a nossa resistência
Declare guerra a elite exploradora - 2X

PRESÍDIOS INÚTEIS

Leis arcaicas e inúteis
Pensam que a solução
É castigo e a punição
O dia-à-dia está aí para provar
Rebeliões estão sempre a estourar

Presídios inúteis - 2x

ANARQUIA

Anarquia –abolindo as propriedades
Anarquia- destruindo as autoridades
Anarquia- Nem governantes e nem governados
Anarquia- sem igrejas e sem religião

Ei operário e trabalhador, mostrem sua força contra o Sistema opressor.

Anarquia – Lutando pôr liberdade
Anarquia - Lutando pôr Igualdade

MASSACRE NO BRASIL

No Norte do país
Há uma mancha de sangue
Em lembranças ao massacre
E a covardia no Sul do Pará

Só queriam ocupar para morar e plantar
Resistir e produzir para poder morar ali

O mundo inteiro viu,
O mundo inteiro assistiu
O massacre do Brasil,
O massacre no Brasil

Você viu o mundo assistiu
Massacre, massacre,
Massacre no Brasil! - 2x

Um bando de covardes fardados
E armados pra matar
De fuzis e metralhadoras
Receberam ordens pra atirar

O mundo inteiro viu,
O mundo inteiro assistiu,
O massacre do Brasil,
O massacre no Brasil

UNIÃO LIBERTÁRIA

Força ao movimento
Vida aos companheiros
Que no dia-a-dia
Lutam por anarquia

Estamos ocupando,
Estamos enfrentando,
O movimento Punk sempre está lutando

União 3x Libertária
Fazemos nossos zines,
Fazemos nossas músicas,
Atividades culturais
Faça, é protesto !

União 3x Libertária

Você não agiu, você decidiu
Punk só morreu pra quem não o viveu.

União 3x Libertária

ATITUDE SUBVERSIVA

Está na hora da ação direta
Nada de trégua para o poder

Atitude subversiva
Pra ofender o poder

Armados de ódio, dispostos a lutar
Contra o fascismo e contra o racismo
Nós não estamos para brincadeira
Lutamos pela a Anarquia A nossa bandeira

Atitude subversiva
Pra ofender o poder

Nossa ação é nossa resistência
Antiautoritária e revolucionária
Estamos aqui para desacatar,
Lutar por anarquia estamos
Dispostos até morrer”

PORCOS MILITARES

Militares a serviço do Estado
Aliado ao poder e aos governantes

Não - 3x
Militares não, não!

Esses mesmos cães da burguesia
É no dia a dia também um cidadão
Moram em favelas e periferia
E a sua rotina é uma vida de cão

Alegam que estão só cumprindo ordens
Que reprimir é a sua obrigação
Pobres coitados, bastante endividados
Estúpidos e arrogantes
Reflexos da sua frustração

Não - 3x
Militares não não!

HIROSHIMA

A bomba foi lançada
Caos em Hiroshima
Cidade devastada
Pessoas mutiladas
Não quero ver pessoas morrendo! - 2x

DESERTAR

Existem muitas guerras no mundo
Mas, isso não me impede de viver
Lutamos pela paz e anarquia
Enquanto muitos pensam em morrer

Morrer ou desertar?

Você que está em cima do muro
Olhe de um lado e veja a paz
Pare agora com a maldita guerra
E tire sua farda, meu rapaz

Morrer ou desertar?

UTOPIA

Eu dou meus passos
Isso não importa
Quando devo
E onde chegar
Utopia - 3x

Não me venha com essa estória
Não há caminho certo
O certo é caminhar.

FESTA SANGRENTA

Isso não é cultura
Isso é tortura - 2x
Multidão a aplaudir
Um homem a ferir
Arte de sangrar
Um animal até matar
Arte de torturar - 2x
Não é arte e nem cultura
É covardia e tortura - 2x
Hardcore culturalmente subversivo!
ÚLTIMA MARCHA é uma banda hardcore formada entre 96/97 por ex-integrantes das bandas locais Estrago, Estado Deplorável e Terror Terror!. Surgiu levando alguns sons destas bandas. Estréiam no 1º de maio de 1997, fazendo um ato-show em praça pública, com aparelhagem própria e precária gig na rua com estagnação da cena local. A banda teve várias formações. Em 2006, conta com Dick (bt), Antigo (gt/vc), Tayna e Jamys (berros) e Eduardo (bx), que gravarão seu novo CD oficial com muitos sons novos.
Os integrantes da banda são anarcopunks e punks. Entre suas atividades está a produção do zine “Punks Invaders”, do jornal “Grito Punk”, da distro/selo “Grito Punk Prod” (que também organiza gigs), de dois sites e ações diretas.
Escreva e receba nossos materiais e manter uma amizade.

ÚLTIMA MARCHA participou de diversas coletâneas (discos, fitas e CDs) e tem várias demos lançadas. Já tocou em Teresina/PI, Belém/PA e Imperatriz/MA, além de diversas gigs em São Luís, muitas organizadas pela própria banda, pela extinta ULMA com outras bandas.

Sendo uma banda formada por punks, anarcopunks e simpatizantes, tem como base o anarquismo ativista, não se prende a rótulo nenhum e nem tem preconceitos contra outros tipos de expressões culturais e musicais, contanto que não sejam machistas, sexistas, homofóbicas, patrióticas/nacionalistas, fascistas e outras merdas que atrasam o mundo em que vivemos.

Os integrantes da ÚLTIMA MARCHA possuem preocupações com o dia-à-dia, por isso preparam diversas atividades para que possam por em prática suas idéias e metas.

Alguns integrantes da banda integram o MP-MA (Movimento Punk do Maranhão). Possuem a distro GRITO PUNK PRODUÇÕES (que lança o jornal GRITO PUNK, distribui CD’s e fitas, zines e jornais); organiza gigs e etc), lançam zines como o Rinha de Cães, Hardrunk e produzem o site www.gritopunk.hpg.com.br . Gostariam que todos(as) escrevessem para trocas de informações, amizades, materiais e muito mais. A resposta garantida
HISTÓRIA DO MOVIMENTO ANARQUISTA NO BRASIL

(*) Edgar Rodrigues





Com 8.511.965 km² e uma população de cerca de 160 milhões de habitantes, "encontrado pelos navegadores portugueses em 1500", colonizado à força de chicotadas e da decepação de pares de orelhas com as mãos dos capitães do mato", cresceu pela força do trabalho escravo, como os demais países "descobertos" por espanhóis, italianos, holandeses, franceses, ingleses e outros.

A questão social começou quando uns poucos figurões alugaram e compraram braços humanos para desbravar a terra, abrir estradas, construir pontes, moradias, carruagens e tudo o mais capaz de proporcionar uma vida confortável aos comandantes da miséria e do progresso do Brasil.

Nos quase 500 anos de história aconteceu de tudo um pouco: compra e venda de gente como nós nos leilões em praça pública, uso de escravos novos para reproduzir filhos (mão-de-obra com pouco custo e nenhum risco) com escravas sadias, trabalho pela comida, trapaças para tomar terras férteis aos nativos, prisões, espancamentos a gosto dos patrões e tudo o mais que o cérebro humano é capaz de imaginar para dominar seus semelhantes. E eram todos boas almas tementes a Deus...

A opressão seguiu-se às fugas e à formação dos quilombos, o mais importante foi instalado em Palmares (1602-1695), resistiu quase um século, teve 20 mil habitantes vivendo em comunidade sem leis nem amos. Zumbi e seus companheiros anteciaparam-se a Tiradentes dois séculos tentando formar uma nação dentro do Brasil.

Independente em 1822, no grito do português Pedro I (4º de Portugal), o Brasil foi palco de muitas fugas e revoltas populares: a Setembrada e a Novembrada (1831); Levante de Ouro Preto (1833); a Sabinada (1837); a Balaiada (1838); a Cabanagem (1835-1840); a Guerra dos Farrapos (1835-1845); a Revolução Liberal (1842); a Revolução Praieira e a Proclamação da República em 1889.

Pouco antes (13 de maio de 1888) havia sido promulgada a Lei Áurea acabando com a prática de comprar e vender gente.

A rebeldia iniciada na contramão pretendia mudar a prática patronal, surrada, vergonhosa, anti-humana!

Do velho mundo chegavam as idéias revolucionárias de navio, em livros publicados na Europa. Entravam pelos portos do Rio de Janeiro, de Santos, atravessavam as fronteiras invadindo o Brasil um pouco na cabeça de cada imigrante que vinha em busca de liberdade e de terra fértil para semear o anarquismo.

Nas duas últimas décadas do século 19 alguns jovens brasileiros foram estudar na França e em Portugal e lá souberam das idéias libertárias. Outros estudaram no Brasil mesmo e encontraram livros de Kropotkine nas livrarias e na leitura respostas para suas inquietações.

É dessa época Manuel de Mendonça, autor da novela social "Regeneração".

O médico e higienista Fábio Luz encontrou na Bahia Palavras de um Revoltado, de Kropotkine, leu essa revolucionária obra e tornou-se anarquista. Escreveu e publicou Ideólogos e Os Emancipados, duas obras libertárias do início do século 20, sendo desde então considerados os primeiros escritores brasileiros a tratar da questão social no romance.

Aos dois intelectuais anarquistas juntaram-se Elísio de Carvalho, o estudante de medicina J. Martins Fontes, Pedro do Couto, Rocha Pombo, Pausilipode da Fonseca, João Gonçalves da Silva e Maximino Maciel, formando o grupo que publicou, no Rio de Janeiro, mais adiante, a revista Kurtur, e fundaram a Universidade Popular, em 1904, duas iniciativas anarquistas.

Avelino Foscolo, começou em Minas Gerais, Reinaldo Frederico Greyer, no Rio Grande do Sul, Ricardo Gonçalves (tem uma rua com seu nome em São Paulo), Benjamin Mota, Edgard Leuenroth e João Penteado, em São Paulo; Orlando Corrêa Lopes, Francisco Viotti, Domingos Ribeiro Filho, Lima Barreto e José Oiticica, no Rio de Janeiro. De Portugal chegou Neno Vasco, um ilustre advogado, fez escola como anarquista em São Paulo (1901-1911), entre outros responsáveis pela sementeira anarquista no território brasileiro.

Em 1890 chegaram da Itália Giovani Rossi e seus companheiros para fundar a Colônia Cecília no Paraná.

A São Paulo, Guararema, chegou o italiano Artur Campagnoli e aos poucos Gigi Damiani, Alexandre Cherchiai, Oresti Ristori, Frederico Kniestedt, valorosos militantes italianos e de outros países que, depois de dar um salto no escuro para se ajustar ao clima tropical, às formas de trabalho, aos costumes, à alimentação, ainda tiveram que aprender o idioma português. A única coisa que pouco diferenciava o Brasil da Europa era a questão social, a exploração do homem pelo homem.

Lícito é destacar que o motor de propulsão do movimento anarquista no Brasil veio da Itália, foram os imigrantes deste país que sacudiram e agitaram com maior intensidade a questão social, as reivindicações e começaram uma propaganda sistemática do anarquismo e do anarco-sindicalismo. Em idioma italiano ou em português, publicaram dezenas de jornais, fizeram centenas de palestras, realizaram espetáculos teatrais com peças revolucionárias e por isso muitos foram presos, expulsos e outros tiveram de mudar de atividades para se esconder, embora uns poucos também tenham melhorado de vida e abandonado as idéias.

Dessa sementeira que envolveu em primeiro plano os italianos, seguidos e apoiados por portugueses, brasileiros, espanhóis e outros, circularam pelo Brasil mais de uma centena de jornais e revistas (entenda-se títulos) anarquistas e anarco-sindicalistas, sendo quatro diários; fundaram e dirigiram escolas de ensino racionalista, formaram grupos de teatro e representaram mais de uma centena de peças libertárias e anticlericais, fizeram comícios públicos contra a guerra, o serviço militar obrigatório, reduziram a jornada de trabalho (quando chegaram oscilava entre 16 e 10 horas diárias), bateram-se pela higiene e segurança no trabalho, por uma infinidade de melhorias tornando o trabalho menos penoso para o proletariado do Brasil. Mais de um milhar foram expulsos com a roupa do corpo acusados de agitadores estrangeiros, umas dezenas morreram lutando com a polícia. O primeiro anarquista assassinado foi o italiano Polenice Mattei, em São Paulo, no dia 20 de setembro de 1898.

Para se entender a trajetória do anarquismo no Brasil, confundido com o movimento sindicalista revolucionário ou anarco-sindicalista, é preciso definir ainda resumidamente o que os distingue e por que se confundem.


Movimento Anarquista: ação de grupos anarquistas, em conjunto ou separadamente, composto por células orgânicas, comunas, grupos, centros de estudos, uniões e federações.

O movimento anarquista não é exclusivamente uma organização de operários para operários, é ação de indivíduos que se opõem e dão combate ao capitalismo, almejando a derrocada do Estado e a reconstrução de uma Nova Ordem Social, descentralizada horizontalmente, autogestionária. Não é a revolta dos estômagos, é a revolução das consciências! O Movimento Anarquista não se firma na luta de classes ou pretende instalar os governados no lugar dos governantes, seus fins são de acabar com as classes, tornar o homem irmão do homem, independente de cor, idade ou sexo. Não visualiza a igualdade metafísica ou de tamanho, força, necessidades, quer a igualdade de possibilidades, de direito e deveres para todos.


Anarco-Sindicalismo: corrente sindicalista, assim chamada a partir da cisão provocada no 5º Congresso da AIT (Primeira Internacional dos Trabalhadores), em Haia, no ano de 1872, adotada pela maioria dos operários do Brasil até a implantação dos sindicatos fascistas pelo Estado Novo de Vargas, em 1930.

O anarco-sindicalismo é ao mesmo tempo uma doutrina e um método de luta.

Como doutrina, parte do trabalhador, célula componente da sociedade que pretende aperfeiçoar e desenvolver. Como método de luta, pretende a anulação do sistema capitalista pela ação direta, pela greve geral revolucionária e a substituição por uma sociedade gerida por trabalhadores em autogestão. Sua força reside no conjunto de organizações operárias (sindicatos, uniões e federações) voluntárias, livremente associadas.


A diferença entre sindicalismo e anarquismo consiste nos métodos e alcance. O movimento anarquista é de indivíduos, pretende torná-los unidades ativas, independentes, capazes de produzir e gerenciar em autogestão, sem as muletas políticas, religiosas, sem chefes: vai até onde a liberdade e a inteligência o possa levar. O sindicalismo é um movimento de operários (inclusive de ofícios vários), voltado mais para a gerência da produção e do consumo. Seu espaço é limitado, materialista, sem a dimensão e o alcance de filosofia de vida do anarquismo.


Bolchevismo: Variedade de socialismo. Doutrina política dos democratas russos que desejavam a aplicação integral do programa máximo de Lenin e Plekhanov. É empregado também como sinônimo do comunismo e do marxismo. Nasceu em agosto de 1903, durante o 2º Congresso do Partido Social Democrata Russo, iniciado em Bruxelas e terminado em Londres. Chegou ao Brasil depois da Revolução Russa de 1917, ganhando corpo com a formação do PCB em 1922. Disputou com os anarco-sindicalistas a supremacia dos sindicatos, transformando-se desde então num sério opositor aos movimentos anarquista e sindicalista.

Revendo a caminhada histórica do movimento libertário brasileiro, descobre-se que andaram pelo Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina, Pernambuco, Rio de Janeiro e São Paulo socialistas da escola de Fourier, Garibaldines, Maria Baderna da escola de Mazini; anarquistas adeptos de Proudhon e Bakunin e revolucionários da Comuna de Paris chegados clandestinamente ao Brasil em busca de asilo político.

Para o autor a história do anarquismo em terras brasileiras começou a ser escrita efetivamente em 1888 com a chegada de Artur Campagnoli. Foi este bravo militante italiano, artista joalheiro, falecido em 1944 em São Paulo, quem teve o mérito de fincar o mais visível e incontestável marco anarquista no Brasil. Chegou a São Paulo em 1888, comprou uma área de terra considerada improdutiva e fundou a Colônia Anarquista de Guararema , com ajuda de libertários russos, franceses, espanhóis, italianos (a maioria) e nas décadas de 20 e 30 teve a colaboração de brasileiros. Dois anos mais tarde veio o engenheiro agrônomo Giovani Rossi e cerca de 200 imigrantes da Itália, em duas levas, para fundar a Colônia Cecília no Paraná. Esta experiência ácrata resistiu de 1890 a 1894 às investidas do governo da República, que acabava de implantar-se no Brasil. Asfixiada por cobranças de impostos indevidos, pelas invasões militares, os mais resistentes esperaram a expulsão, radicando-se nas imediações para olhar de longe a palmeira onde por quatro anos tremulou a bandeira preta e vermelha do Anarquismo.

São desta mesma época os periódicos ácratas: Ghi Schiavi Bianchi, São Paulo, 1892, em idioma italiano e tendo como diretor Gallileu Botti; L'Avenire, São Paulo, 1893, em italiano e português; Il Risveglio, São Paulo, 1893, em italiano.


O Libertário, em português, saiu em 1898, em São Paulo, sob a direção de Benjamim Mota; O Despertar, Rio de Janeiro, em 1898, sob a direção de José Sarmento Marques, e em janeiro do mesmo ano de 1898 realizou-se o Primeiro Congresso Operário no Rio Grande do Sul com a participação de dois centros anarquistas. Em 20 de setembro foi assassinado Polenice Mattei, o primeiro mártir do anarquismo, em São Paulo, Brasil.

Em mais de cem anos, o movimento anarquista do Brasil sofreu inúmeros revezes. Chegou a contar com o apoio de quatro diários, dezenas de semanários, mensários, bimensários e periódicos. Atravessou fases dificílimas sem nenhum porta-voz nem poder reunir seus militantes.

Nesse mesmo período foram publicados alguns livros e folhetos, a maioria por iniciativa de grupos libertários que se cotizavam para angariar recursos com os quais custeavam edições. As obras clássicas foram lançadas por editoras comerciais. Somado o esforço dos libertários às iniciativas dos livreiros, o número de títulos de livros publicados em terras brasileiras pouco excede as duas dezenas até 1960.

Em 1964 chegou a ditadura militar e com ela um frutífero período de grande efervescência editorial de obras libertárias. Paralelamente à repressão, escritores e editoras afrontaram a ditadura na década de maior repressão (1970-1980), prosseguiu durante a varrida do entulho autoritário, entrando na "nova-velha república" pesquisando e publicando livros ácratas.

O anarco-sindicalismo e o anarquismo caminharam no Brasil muito entrelaçados enquanto movimento. Sua distinção era notada na imprensa.

Mais preocupados com a ideologia, os anarquistas desenvolviam um trabalho educativo. Viam no elemento humano a "peça" mais importante a preparar, tanto no terreno profissional quanto no cultural, a fim de que cada militante fosse capaz de se autogerir sem muletas religiosas, patronais ou policiais. Colocava sempre os cérebros acima dos estômagos.

Com estes objetivos os anarquistas fundaram escolas livres, universidades populares, grupos de teatro social, desenvolveram intensa propaganda educativa, sociológica, de cultura geral, libertária.

Nas duas primeiras décadas do século 20 promoveram manifestações estrondosas na defesa do fundador da Escola Moderna, Francisco Ferrer y Guardia, e de companheiros presos, torturados e expulsos do Brasil. Apoiaram e ajudaram os trabalhadores russos quando da revolta de 1905, os mexicanos em 1910, os russos em 1917, reverenciavam os Mártires de Chicago, no dia 1º de maio, e não esqueciam as vítimas do capitalismo selvagem no Brasil e no mundo.

Durante a guerra de 1914-1918, os libertários brasileiros atuavam em diversas frentes, em nível de Brasil: contra o desemprego, o aumento do custo de vida, a escassez de alimentos de primeira necessidade, combatiam a burguesia açambarcadora, o clero corruptor das mentes, o Estado "pai de todos", que garantia inclusive a carnificina humana nos campos de batalha.

Para minimizar a fome, o governo, pressionado pelo proletariado libertário que fazia comícios nas portas das fábricas, autorizou a venda de gêneros diretamente do produtor ao consumidor (processo hoje conhecido como feiras livres, um pouco mudado) sem taxação de impostos.

Em nível internacional realizaram o Congresso Pró Paz, no Rio de Janeiro, e enviaram três delegados ao Congresso realizado no Ateneu Sindicalista do Ferrol, em 1915, dissolvido aos tiros pelo governo espanhol.

O que aconteceu com os representantes do movimento anarquista brasileiro aparece no seguinte texto:

"Realizou-se na quarta-feira à tarde, no largo de S. Francisco, um comício convocado pela Comissão Popular de Agitação Contra a Guerra formado de representantes de várias agremiações operárias daquela cidade.

Abriu o meeting às 5 horas e pouco João Gonçalves da Silva, que explicou os fins do mesmo, que era protestar principalmente contra a proibição feita pelo governo espanhol à reunião do Congresso Internacional Pró Paz de Ferrol.

Seguiram-se com a palavra José Elias da Silva e Dr. Orlando Corrêa Lopes, atacando os governos da Europa e mostrando que o proletariado é o único a sofrer com a conflagração, devendo ele, portanto, rebelar-se contra e esforçar-se por lhe pôr um paradeiro.

Falou depois a operária Juana Buela, companheira de João Castanheira, o operário vítima da sanha da polícia de Espanha. Profundamente emocionada Juana Buela, que leu o seu discurso, proclamou bem alto e bem firme os seus ideais revolucionários, que não esmoreceram com a morte daquele que foi o seu companheiro de vida, antes mais se arraigam e mais se acentuam."

Por fim, Leal Júnior, usou da palavra encerrando o comício com a seguinte moção de protesto:

"Considerando que o direito de reunião e livre manifestação do pensamento é um direito primordial conquistado, adquirido e reconhecido em todo o mundo civilizado e;

Considerando que o Congresso Internacional Pró Paz convocado pelos elementos proletários e revolucionários de Ferrol, Espanha, e tendo por fim combinar uma ação conjunta dos proletários da Europa e da América no sentido de uma afirmação positiva e concreta contrária à guerra e favorável ao estabelecimento de uma paz real baseada na solidariedade efetiva desse proletariado, colimava um escopo altamente humanitário e de verdadeira defesa da civilização;

A massa popular reunida em comício organizado pela Comissão Popular de Agitação Contra a Guerra e realizado no Largo de S. Francisco de Paula, às 5 horas da tarde de hoje, deixa firmadas nesta moção as expressões de seu indignado protesto contra o ato do governo espanhol, proibindo aquele Congresso, perseguindo e deportando os delegados ao mesmo idos de outros países e assassinando, pelo instrumento da sua política, um dos delegados enviados por associações proletárias e libertárias do Brasil, o operário João Castanheira, como consta dos telegramas publicados pela imprensa desta cidade.



Rio de Janeiro, 12 de maio de 1915"



O comício do Rio de Janeiro terminou com grande passeata na frente da Federação Operária, no antigo Largo do Capim. Sucederam-lhe manifestações dos libertários do Paraná, Rio Grande do Sul e de diversas cidades do Estado de São Paulo. Os jornais operários e anarquistas também atacaram de rijo os beligerantes, inclusive distribuindo postais com alegorias de repulsa à guerra, produzindo grande impacto ao longo dos quatro anos em todo o Brasil.

São Paulo foi palco de greves insurrecionais em 1906 e 1907 pela conquista da jornada de oito horas diárias; em Santos as greves para conseguir as oito horas só terminaram em 1921.

O proletariado de tendência libertária procurava abrir caminho na selva capitalista deflagrando greves que vieram a desembocar na insurrecional de 1917, nos estados de São Paulo, Rio Grande do Sul e Paraná, por solidariedade.

Em 1918, movimento insurrecional explodiu no Rio de Janeiro com um saldo de três operários assassinados pela polícia carioca e cerca de meia centena de presos e deportados. Em 1919, Epitácio Pessoa aproveitou para expulsar do país três dezenas de anarquistas.

Contrariando as expectativas do governo, que acreditava que com as expulsões e deportações reduzia a pujança do movimento libertário, ainda em 1919, formou-se o Partido Comunista do Brasil, de que logo se arrependeriam seus organizadores ao saber que o governo soviético prendia, torturava, matava e expulsava anarquistas que haviam ajudado a derrubar a dinastia dos Romanov.

A burguesia vivia apavorada, exigia respostas imediatas aos "desordeiros..."

Uma onda nacionalista começava a formar-se no Brasil em oposição às "esquerdas". Em 1920 são expulsos do Rio de Janeiro mais de dois mil portugueses, pescadores de Matosinhos e da Póvoa de Varzim, vítimas desse patriotismo brasileiro. Muitos haviam chegado ao Brasil adolescentes, casados e já tinham filhos nascidos no Rio de Janeiro. O único pecado desses trabalhadores do mar era não quererem naturalizar-se brasileiros.

Uma lei vesga proibia-os de exercer suas profissões, acabando por servir ao integralista capitão Frederico Vilar, para mandar de volta gente honrada, com o aval do presidente Epitácio Pessoa.

Neste mesmo ano foram expulsos também anarquistas e anarco-sindicalistas italianos, portugueses, espanhóis, precipitando protestos de operários e intelectuais em todo o país e na Europa.

No sul, alemães e russos anarquistas marcavam suas presenças em oposição aos seus patrícios que pretendiam ficar ricos e aos brasileiros xenófobos exploradores.

Greve na indústria têxtil de Santa Catarina é o pretexto para expulsar dois anarquistas nascidos na Alemanha.

Em Porto Alegre o anarquista alemão Frederico Kniestedt abre espaço com os jornais Der Freie Arbeiter, Aktion, Alarm e o Sindicalista, os três primeiros publicados em seu idioma e o último em português.

Ainda no Sul, mais exatamente em Erebango, (Getúlio Vargas), fixaram residência e formaram uma comunidade várias famílias de russos da Ucrânia. Sua atuação anarquista é-nos contada por um dos seus componentes, Elias Iltchenco que visitamos já muito doente.

"No ano de 1920 os emigrantes de Getúlio Vargas - ex-Erechim - já tinham condições emocionais e de locomoção e começaram a formar grupos coesos, a reunir-se uma vez por mês. Nosso grupo tinha mais de 40 membros espalhados numa área de 40 a 50 km, englobando grupos de Floresta, Erechim, Erebango e outros lugares.

São dessa época:

União dos Trabalhadores Rurais Russos, de Getúlio Vargas (antigo Erechim). Seu presidente chamava-se Sérgio Iltchenco, o secretário Paulo Uchacoff e o tesoureiro Simão Poluboiarinoff;

União dos Trabalhadores Russos, de Porto Alegre. Esta tinha como presidente Niquista Jacobchenco;

União dos Trabalhadores Rurais Russos de Guaraní, Campinas e Santo Ângelo. Componentes: João Tatarchenco, Gregório Tatarchenco e outros.

União dos Trabalhadores Russos de Porto Lucena.

Um dos mais ativos militantes russos no Rio Grande do Sul, distribuidor do jornal Golos Truda, publicado na América do Norte de 1911 a 1963, e de toda a propaganda escrita que chegava da Argentina, chamava-se Demétrio Cirotenco. Durante mais de duas dezenas de anos foi o mais importante elemento de ligação, o aglutinador das Uniões de Trabalhadores em Erechim e Erebango principalmente. Depois sofreu um acidente e morreu, deixando um vazio entre os camponeses russos, que só em 1925 perderam a esperança de ver implantada em seu país uma sociedade de fundo e forma libertária."

O mais eminente elemento anarquista russo no Brasil, escritor, jornalista, teatrólogo, professor e conferencista carregava uma barba semelhante a de Kropotkine e chamava-se Ossef Stepanovetchi. Era natural da Ucrânia e marcou a sua presença no Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, São Paulo e Curitiba-Paraná, onde faleceu.

Os jornais mais lidos entre os emigrantes chegavam da Argentina, Canadá e dos Estados Unidos (Golos Truda) de 1918-1930; Golos Trujnica, de Detroit, de Nevada, Chicago e Nova Iorque, Dielo Trouda Probuzdenia.

Na segunda e na terceira décadas do século 20 o movimento anarco-sindicalista e anarquista chegou ao seu ponto mais alto. Além, dos jornais libertários, alguns militantes dispunham de espaços diários na imprensa comercial. Um deles nascido em Portugal, José Marques da Costa, tinha uma coluna diária no jornal A Pátria, do Rio de Janeiro, e publicou a seguinte nota: "Camilo Berneri na reunião do grupo Os Emancipados. Sexta-feira próxima, na sua sede à rua Buenos Aires, 265, às 20 horas em ponto, os anarquistas, simpatizantes e trabalhadores em geral terão oportunidade de ouvir uma brilhante Conferência de Camilo Berneri, sobre Giordano Bruno na Philosofia e na Renascença-Vida e Pensamento do grande filósofo da liberdade.

Entrada franca, tribuna livre



Os Emancipados



Da Rússia e da Itália chegavam também ao Brasil e fizeram grandes estragos no movimento libertário duas correntes políticas na época batizadas de Bolchevista e de Integralista.

A primeira orientada pela Terceira Internacional e a Internacional Sindical Vermelha, com sede em Moscou, agia em nome da Ditadura do Proletariado, no seio do Partido Comunista Brasileiro, criado em março de 1922 por 11 egressos do movimento ácrata e um socialista. Começaram disputando a direção dos sindicatos e acabaram por ajudar os governos de Artur Bernardes, Washington Luiz e Getúlio Vargas a reduzir sensivelmente o movimento libertário e os sindicatos livres. Em 1927 assassinaram os anarquistas Antonino Dominguez e Damião da Silva e feriram mais de 10 militantes no Sindicato dos Gráficos, à rua Frei Caneca, 4, sobrado, Rio de Janeiro. Assaltaram e roubaram o acervo do Sindicato dos Trabalhadores em Calçados, à rua José Maurício, 41. Ajudaram assim a encher o Campo de Concentração do Oiapoque e a implantar a ditadura nazi-fascista no Brasil com seus sindicatos verticais, controlados pelo Ministério do Trabalho.

A segunda corrente política veio dos porões do Vaticano com o nome de fascismo. No Brasil, por muitos anos, apelidado de Integralismo O projeto foi elaborado por D. Annunzio, Bertolotti, Papini e outros e tinha como "filosofia": "Poder tudo, absolutamente tudo! O único amor é o poder; o único fim é o poder; extremo sonho o poder!"

No Brasil, o chefe, Plínio Salgado, e seu alto comando reuniam a fina-flor dos desordeiros dispostos a tudo fazer para derrubar o governo e chegar ao poder: era o candidato a ditador Plínio lutando contra o ditador Getúlio.

Para Plínio, os decretos nº 19.433 de 26 de novembro de 1930; 19.770 de 19 de março de 1931 e 22.969 de 11 de abril de 1933 obrigando os trabalhadores a aderirem às fileiras "sindicais do Ministério do Trabalho, tornando-os eleitores com representantes profissionais na Assembléia Nacional Constituinte, num total de 40 membros, sendo 18 representantes dos empregados, 17 dos empregadores, dois funcionários públicos e três profissionais liberais". Queriam copiar Mussolini totalmente.


Vargas contava, para convencer os recalcitrantes, com a polícia política de Batista Luzardo, Felinto Müller, Emílio Romano, Serafim Braga e outros profissionais do argumento do cassetete.

No Rio de Janeiro, o jornal O Primeiro de Maio, de 1933, denunciava: "Em um só xadrez da polícia acham-se presos 50 proletários, sem nota de culpa. Muitos deles sofreram castigos corporais por terem protestado com a greve de fome contra a alimentação que nem para os cães prestava."

Em Porto Alegre, sob a orientação do anarquista Frederico Kniestedt, Aktion, de 1º de maio, fala das pretensões nazistas sobre o Brasil em idioma alemão. E no dia 19 de maio de 1933 um grupo armado invade a Federação Operária de São Paulo, arromba as portas das secretarias do Sindicato dos M. de Pão, Liga Operária da Construção Civil, Trabalhadores em Moinhos e Armazéns, União dos Canteiros e União dos Empregados em Cafés, destrói seus acervos e leva os detidos para a Central de Polícia, onde permanecem 24 horas. Quando chegaram o chefe de polícia e o delegado da "ordem política e social" determinaram que fossem em liberdade, que a ordem de prisão não partiu daquele departamento policial.

Em 1933, os jornais A Lanterna, A Plebe e O Trabalhador, a Federação Operária, o Centro de Cultura Social e as Ligas Anticlericais viviam de prontidão para não serem surpreendidos pelas marchas integralistas.

Em alguns bairros de São Paulo, os mensageiros do "Duce" trabalhavam desesperadamente no recrutamento dos "squadristi", que deviam envergar a camisa verde oliva e iniciar a matança, o incêndio e a destruição, fazendo reviver, em pleno século 20, a invasão dos bárbaros inimigos da ciência e da civilização.

O alerta vinha do Comitê Antifascista Libertário e tinha a data de agosto de 1933.

Os comandantes do Integralismo Brasileiro formavam pela seguinte ordem nos anos de 1933-1934: "Plínio Salgado (comandante nacional); Gustavo Barroso (vice-comandante e presidente da Academia Brasileira de Letras); Ribeiro Couto; 130 jornalistas do Distrito Federal que "assinaram o manifesto fascista dirigido aos intelectuais do Brasil". Ei-los: D. João Becker; Oswaldo Aranha (um dos comandantes da revolução getulista de 1930); Oliveira Viana (escritor); Madureira de Freitas, Osvaldo Chateaubriand (diretor do Diário da Noite); Tristão de Atayde (escritor e jornalista); Cláudio Ganns; Lourival Fontes; Hélio Viana; Américo Lacombe; Câmara Cascudo (escritor); os sacerdotes inscritos na Ação Integralista Don Nicolau de Flue Gut, os cônegos Matias Freire, Valfredo Gurgel, Helder Câmara, etc.; os professores da Faculdade de Direito Miguel Reale, Alpinolo Lopes Casali, Damião Neto, Domingos Cantola, Ângelo Simões de Arruda, Loureiro Júnior, Rolando Corbusier, Manuel Ferraz de Campos Salles Neto, Walter Moreira Sales, Homero de Sousa e Silva, Paulo Azevedo Barroso, Manuel Tavares da Silva, Guilherme Luis Riberio, Osvaldo de Sousa Shreiner, Antonio Arruda, Sebastião Martins de Macedo, Ziegler de Paula Bueno, Alcebíades Blanco, Ruiz de Arruda Camargo, Alfredo Buzaid, Ernani Silva Bruno, Epaminondas Albuquerque, Vicente Laporta, Sinval Gonçalves de Oliveira, Antonio Dourado, Alberto Zirondi Neto, Nicolino Amato, José de Barros Bernardes, Carlos Schmidt de Barros Júnior, Milton de Sousa Meireles, Agostinho Lúcio Correa, Arual Antonio dos Santos, Waldemiro Dalboni, Augusto de Oliveira Filho, Ítalo Záccaro, Vitório Nascimento, Cândido de Oliveira Barbosa, Francisco Luis de Almeida Sales, Francisco Gottardi, João José Pimenta de Castro, João Edson de Melo, José de Camargo Rocha, Rio Branco Paranhos, Júnio de Carvalho, José Cândido Silveira Lienert, Antenor Santini, Alceu Cordeiro Fernandes, Antonio Barbosa de Lima, José Vila do Conde e Ranulfo Oliveira Lima.

Com objetivos bem definidos e sem tutores políticos, formava-se no Rio de Janeiro a Aliança Estudantil Pró-Liberdade de Pensamento, cujo manifesto de fundação, A Lanterna, semanário anticlerical e libertário, São Paulo, 9 de novembro de 1933, resume:

"Companheiros

O clero romano que sempre tem vivido aliado aos governantes, embora o artigo 72 da Constituição de 1891 e seus parágrafos estabeleçam em nosso território a liberdade de pensamento, neste instante prepara novos golpes contra o direito de pensar, agir e de orar."

O A Plebe, quase ao findar do ano de 1933, alertava os antifascistas: "O Integralismo pretende, como o fascismo, escravizar e acorrentar o povo. Para não termos que chorar depois como energúmenos, defendamos agora a nossa liberdade como homens."

"Já soou o clarim da redenção humana! Unamo-nos contra todas as guerras, contra todas as tiranias, contra todos os paliativos que nos apresentam. A nossa felicidade, a fraternidade, a liberdade, residem em nós mesmos, na força coesa que há-de triunfar."

Em homenagem aos arruaceiros integralistas, o escritor Menotti del Picchia, candidato a "Duce", lança as bases do Fáscio Paulista com os Camisas Brancas.

Em Niterói (A Plebe, de 2 de dezembro de 1933), o presidente da Academia Brasileira de Letras, Gustavo Barroso, chefe integralista, atacou às bengaladas e quebrou um braço à jovem operária Nair Coelho, 16 anos, quando esta discursava contra os desordeiros fascistas, em cima de um banco de jardim e em Belo Horizonte; quem precisou fugir do Teatro Municipal foi o professor de línguas Casale. O povo, que assistia ao discurso do arruaceiro integralista, resolveu interrompê-lo, expulsar o vendilhão do palco.

Em São Paulo, depois da derrota que tiveram no Salão Celso Garcia, o "bando de Plínio Salgado marcou para o dia 24 de dezembro uma demonstração de força destinada a depredar os sindicatos e assassinar os sindicalistas mais ativos" (Nossa Voz, de 1º de dezembro de 1933): "Marchariam no centro de São Paulo 18 Centúrias (companhias) dispostas a exterminar canibalescamente os anarquistas e outros esquerdistas que se opusessem à sua passagem."

O trabalhador anarco-sindicalista resistia às exigências do Ministério do Trabalho. Contra ele tinha os bolchevistas aderentes desde a primeira hora, os patrões, a polícia, os integralistas invasores de sindicatos operários, que segundo substancioso manifesto do Sindicato dos O. em Fábricas de Vidros de São Paulo, fevereiro de 1934, "naquele momento pleiteavam na Assembléia Constituinte a pena de morte para o Brasil!"

Em março de 1934 a Federação Operária de São Paulo, com sede na rua Quintino Bocaiúva, 80, lançava três manifestos de grande significado. Um contra a Lei Monstro, outro contra a guerra e o terceiro em formato de encarte, enfocando as "organizações operárias, a legislação trabalhista, a lei de sindicalização, a caderneta profissional, a nova lei de férias, a nova Constituição e comunica as conferências de Edgard Leuenroth, Germinal Soler e Hermínio Marcos".

Do Rio de Janeiro, sob o comando do acadêmico Gustavo Barroso, chegavam à Praça da Sé "500 guardas verdes de segurança", tropas de choque, treinados para imobilizar opositores. A polícia também montou metralhadoras em pontos estratégicos para coibir possíveis ataques aos integralistas, ainda "bem-vistos" pelo governo. Além do grande contigente policial, o coronel Arlindo de Oliveira tinha 400 homens do 1º, 2º e 6º Batalhões de Infantaria, do Corpo de Bombeiros e Regimento de Cavalaria no local.

A parade de integralistas contava com a presença de 10 mil soldados do Sigma dentro de suas camisas verdes novinhas em folha empunhando grandes estandartes com o símbolo do integralismo.

Nas imediações da Sé haviam começado a formar-se grandes agrupamentos de curiosos de todas as ideologias. E mal a coluna alcançou a escadaria da Catedral ouviram-se gritos de "morte ao fascismo", "Abaixo os Camisas Verdes" e em seguida tiros. Diz-se que foi uma metralhadora da Guarda Civil Montada, em frente à rua Senador, que ao ser movimentada disparou acidentalmente. Outros garantiam que os tiros foram disparados por comunistas que estariam no meio da multidão aguardando o desfile. O certo é que começou o tiroteio antes da hora marcada pelos libertários para atacar os integralistas, desencadeando-se uma correria infernal. Gente fugindo e gritando, outros caindo feridos mortalmente e a parada e o juramento de fidelidade ao comandante integralista, Dr. Plínio Salgado, Fuhrer brasileiro, não aconteceu.

Correndo nas "estradas" abertas pelos integralistas com a colaboração dos "comunistas" do PCB e dos dirigentes do Partido Católico Brasileiro do Cardeal Sebastião Leme, assessorados por "50 juristas", Getúlio Vargas não teve maiores dificuldades em implantar o Estado Novo, que durou até 1945.

Em síntese, os anarco-sindicalistas e anarquistas do Brasil realizaram:


Primeiro Congresso Operário Brasileiro - Centro Galego, rua da Constituição, 30-32, Rio de Janeiro, de 15 a 20 de abril de 1906. Ao todo 12 sessões. Discutiram 23 temas previamente acertados e um acessório. Compareceram delegados de 23 entidades de cinco estados do Brasil. Esteve presente o engenheiro italiano fundador da Colônia Cecília, Giovani Rossi.


Segundo Congresso Operário Brasileiro - Centro Cosmopolita, rua do Senado, 215, Rio de Janeiro, de 8 a 13 de setembro de 1913. Ao todo os trabalhadores anarquistas e anarco-sindicalistas realizaram 12 sessões, debateram 24 temas com a presença de 117 delegados de 8 estados, sendo dois federações estaduais, cinco federações locais, 52 sindicatos e quatro jornais libertários.


Terceiro Congresso Operário Brasileiro - Sede da União dos Trabalhadores em Fábricas de Tecidos, rua do Acre, 19, Rio de Janeiro, de 23 a 30 de abril de 1920. Efetuaram 23 sessões com a presença de 39 organismos de 11 estados do Brasil.


Primeiro Congresso Estadual de São Paulo - Teve lugar no Salão Excelsior, rua Florêncio de Abreu, 29. Ao todo foram discutidos três temas principais, de 6 a 8 de dezembro de 1906. Objetivo: Pôr em prática as resoluções do 1º Congresso Nacional do Rio de Janeiro.


Primeira Conferência Estadual de São Paulo - Realizada em 1907 com o propósito de elaborar e aprovar os temas para o 2º Congresso Estadual. Ao todo discutiram 22 temas.


Segundo Congresso Estadual de São Paulo - Realizado nos dias 7 e 8 de abril de 1908. Dele participaram 22 organizações operárias comprometidas com o anarco-sindicalismo.


Primeiro Congresso Estadual do Rio Grande do Sul - Teve lugar nos dias 1º e 2 de janeiro de 1898 com a presença de delegados de 10 associações, um jornal e um grupo anarquista. Foi o primeiro encontro de trabalhadores com idéias sociais no Brasil.


Segundo Congresso Operário Estadual do Rio Grande do Sul - Na rua Comendador Azevedo, 30, dias 21 a 25 de março de 1920. Estiveram presentes delegados de 30 associações todas comprometidas com o sindicalismo revolucionário.


Terceiro Congresso Operário do Rio Grande do Sul - De 27 de setembro a 2 de outubro de 1925. No total foram 12 sessões com a presença de delegados de 23 entidades operárias e do Comitê Pró-Presos Sociais e de dois jornais. Foi aprovada uma Declaração de Princípios da AIT e criado um Pacto de Solidariedade Internacional Anarquista.


Quarto Congresso Operário do Rio Grande do Sul - clandestino em data que não ficou registrada. Realizaram três sessões durante dois dias com a presença de 16 entidades operárias, dois jornais, sies grupos anarquistas, vários militantes de São Paulo refugiados naquele estado do sul do Brasil (Florentino de Carvalho, Domingos Passos e outros) e delegados do Uruguai, Paraguai e Argentina.


Primeiro Congresso da Federação de Trabalho do Estado de Minas Gerais - Realizou-se em Belo Horizonte em junho de 1912. Ao todo foram debatidos e aprovados sete temas.


Congresso Operário do Paraná - Realizou-se no ano de 1907. Contou com a presença da Federação Operária, fundada por italianos remanescentes da Colônia Cecília, com o Grupo Filo-Dramático, 12 associações operárias e o delegado do jornal O Despertar, fundado e dirigido pelo anarquista italiano, expulso do Brasil em 1919, Gigi Damiani.


Outros Congressos - Os trabalhadores anarco-sindicalistas brasileiros participaram ou marcaram presença no Congresso dos Operários Chapeleiros Sul-Americano, realizado na Argentina e Uruguai, em julho de 1920. As pesquisas deixam perceber que os anarquistas estiveram na linha de frente de todos os congressos anarco-sindicalistas e ainda realizaram os seus.


Conferência Libertária de São Paulo - Rua José Bonifácio, 39-2º andar. Ao todo realizaram sessões nos domingos 14, 21 e 28 de junho, 5, 12 e 26 de julho de 1914. O objetivo principal era preparar e indicar dois delegados para representar o Brasil no congresso anarquista de Londres que não chegou a acontecer por causa da guerra.


Congresso Anarquista Sul-Americano - Realizou-se no Rio de Janeiro de 18 a 20 de outubro de 1915 na sede da Federação Operária, praça Tiradentes, 71, sobrado. Estiveram presentes delegados do Brasil, da Argentina e do Uruguai.


Congresso Internacional da Paz - Realizado de 14 a 16 de outubro de 1915. Seu ponto de debates foi a sede da Federação Operária, na praça Tiradentes, 71, Rio de Janeiro, com a presença de delegados da Federación Obrera Regional Argentina, delegados do Chile e do Uruguai.


Congresso Anarquista do Brasil - Realizado na Nossa Chácara, no bairro de Itaim, São Paulo, de 17 a 19 de dezembro de 1948. Este marca o ressurgimento do movimento anarquista no Brasil após a derrubada da ditadura de Getúlio Vargas. Contou com a presença de anarquistas de vários pontos do Brasil e diversos militantes italianos, espanhóis e portugueses residentes no Brasil ou de passagem.


Encontro Anarquista na Urca - De âmbito nacional. Teve lugar nos dias 9 a 11 de fevereiro de 1953 na rua Osório de Almeida, 67, no Rio de Janeiro, com a presença de mais de três dezenas de anarquistas. Foi um encontro muito proveitoso.


Congresso Anarquista do Brasil - Realizado de 26 a 29 de março de 1959 em Nossa Chácara, no Itaim, São Paulo, com grande presença de militantes de todo o país, exilados espanhóis e alguns italianos. Foi aprovada a reativação dos Centros de Cultura Social e fundada a Editora Mundo Livre, do Rio de Janeiro. Ao todo foram debatidos e aprovados 10 temas.


Encontro dos Libertários Espanhóis Exilados - Foi na sede do Centro de Cultura Social, na rua Rubino de Oliveira, 85, São Paulo, nos dias 7 e 8 de outubro de 1961. Estiveram presentes anarquistas brasileiros e exilados da CNT e da FFLL.


Encontro Anarquista - São Paulo de 20 a 22 de abril de 1962. Reuniram-se em Nossa Chácara 100 militantes anarquistas de todo o Brasil, incluindo alguns companheiros estrangeiros. Foram realizadas cinco sessões muito proveitosas.


Décimo Encontro Anarquista - Realizou-se nos dias 15 a 17 de novembro de 1963. Reuniram-se para tratar do rumo do movimento anarquista no Brasil mais de 100 militantes, Os assuntos foram divididos em seis temas principais.


Maio de 1964 - Em Nosso Sítio. Encontro clandestino de avaliação dos anarquistas do Rio de Janeiro e de São Paulo para acertar os rumos diante da ditadura militar implantada em 1º de abril do mesmo ano. Saíram desse encontro algumas resoluções para resguardar o acervo dos anarquistas.


Encontro em Nosso Sítio - Realizado em 1968, em Mogi das Cruzes, São Paulo. Clandestino.

Encontro dos Grupos Pró COB - Realizado em maio de 1986 na rua Rubino de Oliveira, 85.

O movimento libertário do Brasil participou também do Congresso de Ferrol, Espanha em 1915, com três delegados. Em 1928 com um delegado indireto e depois de 1945 enviou como delegado à França Joseph Tibogue, e mensagens de apoio aos demais congressos.

A trajetória do anarquismo no Brasil teve a participação de uma confederação, várias federações, mais de 100 grupos especificamente libertários, seis editoras, três livrarias, mais de uma dezena de escolas racionalistas, duas universidades populares, uma intensa propaganda através do teatro ácrata, possui uma propriedade comprada pelos anarquistas, desde 1939, com moradias modestas e arquivo em prédio próprio. Foi uma sementeira que germinou, e hoje alimenta pesquisas, teses de doutoramento e sensibiliza várias editoras comerciais para publicá-las.

No Rio de Janeiro, com o falecimento de José Oiticica em 1957, três militantes libertários tiveram a idéia de formar o Centro de Estudos Professor José Oiticica, na sala onde o mestre dava aulas, à Av. Almirante Barroso, 6-sala 1.101. Nos dias seguintes os três realizaram uma reunião na Avenida 13 de Maio, 23, sala 922, e resolveram procurar companheiros afastados do movimento por razões diversas e convidá-los para fazer parte do centro e subscrever sua ata de legalização em 22 de julho de 1960. (O centro começou suas atividades em 1958)

Em 1969, um "punhado" de militares da aeronáutica rebentaram a porta aos coices, carregaram parte do acervo cultural, máquina de escrever, mimiógrafo e outros objetos "subversivos", depois foram nas moradias dos diretores do centro, "confiscaram livros, etc.", prenderam-nos e formaram um processo contra 16, impernunciando um. Torturaram alguns detidos e finalmente levaram-nos a um julgamento que durou até 1972.

O Centro de Estudos do Professor José Oiticica, durante sua existência (12 anos), fundou a Editora Mundo Livre por cotas, editou cinco livros, promoveu curso sobre Anarquismo no Teatro Carioca, recebeu anarquistas da América e da Europa, conduziu várias campanhas de protesto e apoio, realizou mais de uma centena de cursos e conferências, e parte de suas atividades foram anunciadas pela imprensa. Acabou por força da ditadura militar.

Não se pode ignorar também os diários: A Plebe, São Paulo, 1919; A Hora Social, Recife, 1919; Voz do Povo, Rio de Janeiro, 1920; Vanguarda, São Paulo, 1921-1923; A Lanterna, São Paulo, 1901-1934. Os semanários: O Amigo do Povo, São Paulo, 1903; A Terra Livre, São Paulo-Rio de Janeiro, 1907-1910; La Bataglia, São Paulo, 1904-1913; Remodelações, Rio de Janeiro, 1945-1947; Ação Direta, Rio de Janeiro, 1946-1959. As revistas: Remodelações, Rio de Janeiro, 1921-1922; Renascença, São Paulo, 1923; A Vida, Rio de Janeiro, 1914-1915; Revista Liberal, Porto Alegre, 1921-1924; e umas centenas de periódicos.

Um grupo de professores estudiosos do anarquismo promoveu curso na ABI (Associação Brasileira de Imprensa). O Grupo Anarquista José Oiticica, formado por novos militantes libertários, realizaram, no Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro, nos dias 9, 16, 23 e 30 de julho de 1987, um curso de anarquismo envolvendo Problemas Atuais do Socialismo; Anarquismo Hoje e Movimentos Alternativos; Movimento Sindical e Anarco-Sindicalismo; e O Estado Hoje. Teve o apoio do Centro de Cultura Social de São Paulo, a Sub-Reitoria 5, a Comissão de Organização Estudantil, Comissão Cultural do IFCS, e mesmo sendo pago, a freqüência foi boa, o salão ficou literalmente cheio.

No Rio Grande do Sul, grupos de libertários e simpatizantes comemoram o Centenário dos Mártires de Chicago e meio século da Revolução Espanhola, os 67 anos do fuzilamento de Francisco Ferrer e outros eventos.

Na capital do Brasil os anarquistas realizaram um Simpósio Libertário e fundaram a Editora Novos Tempos, que já produziu várias obras de real valor literário e cultura anarquista.

Em São Paulo as Universidades de Campinas, São Carlos e da Capital formaram valiosas bibliotecas de História Social, predominando publicações anarquistas e anarco-sindicalistas, e periodicamente promovem cursos sobre anarquismo, sempre com a participação de membros do Centro de Cultura Social que têm uma longa experiência militante e mantêm permanentemente em sua sede, na rua Rubino de Oliveira, 85-2º, no Brás, círculos de conferências libertárias. E apoiado pelos núcleos Pró COB (Confederação Operária Brasileira) e pela AIT (Associação Internacional dos Trabalhadores), com sede na Espanha, o Centro de Cultura Social de São Paulo continua promovendo sessões comemorativas em defesa da natureza, contra a Bomba Atômica (no aniversário da explosão de Hiroshima), pela passagem dos 70 anos da Greve Insurrecional Libertária de 1917, na cidade de São Paulo, e debatendo a autogestão na luta social e as estratégias da luta sindical.

Em seus ciclos de palestras, temas como "Feminismo e a Reapropriação do Corpo", "Feminismo, Reinventando o Feminino e o Masculino"; "Feminismo, Questões que se Levantam"; "Recuperando a Memória" e "Cavernas do Estado de São Paulo". E nos cursos de Extensão Universitária tratam "O que é o Anarquismo"; "As Origens: Da Revolução Francesa a Proudhon"; "A Primeira Internacional: Marx, Bakunin e a Comuna de Paris"; "Anarco-Sindicalismo, Kropotkine e Malatesta"; "Anarquismo no Brasil"; e "Anarquismo Hoje, Liberdade e Autogestão". Estas iniciativas contaram com o apoio da Escola de Sociologia e Política de São Paulo.

Em sua produtiva trajetória, o Centro de Cultura Social de São Paulo realizou recentemente um Ciclo de Educação Libertária enfeixando os seguintes temas: "O Movimento Anarquista e o Ensino Racionalista em São Paulo, 1912-1919"; "Escola e Trabalho no Brasil Hoje"; "Educação Popular: da Educação Libertária à Educação Libertadora"; "Organização e Poder: Estado, Escola, Empresa"; "A Educação pelo Trabalho, pela Pedagogia Freinet"; "Lutas Autônomas e Autogestão Pedagógica"; e "Uma Terapia Anarquista".

Este movimento ideológico vem sendo divulgado pela revista Autogestão, pelo próprio Boletim do Centro de Estudos Sociais, prospectos avulsos, cartazes e pela imprensa comercial que noticia alguns cursos.

Hoje, o anarquismo não assusta mais ninguém no Brasil. Palavra temida, ridicularizada, esta filosofia de vida resiste ao tempo e virou tema de teses de doutoramento, peças de teatro, novelas exibidas na televisão e filmes de curta e longa metragem.

Os anarquistas do Brasil – salvo os que se dizem e não se encontraram ideologicamente – continuam com Kropotkine: "Quem acha que uma instituição de formação histórica pode servir para devolver privilégios que ela mesmo desenvolveu mostra com isso a incapacidade de compreender o que significa a vida de uma sociedade, uma formação histórica.

Deixa de aprender a lei básica de todo o desenvolvimento orgânico, isto é, que novas funções requerem novos órgãos e que estes se devem criar por si mesmos."

Colaboraram para tornar possível a trajetória anarquista no Brasil: Fábio Luz, João Gonçalves da Silva, Avelino Foscolo, Ricardo Gonçalves, Benjamim Mota, José Martins Fontes, Ricardo Cipola, Rozendo dos Santos, Reinaldo Frederico Greyer, Pedro Augusto Mota, Moacir Caminha, José Ramón, Domingos Passos, João Perdigão Gutierrez, Florentino de Carvalho, Domingos Ribeiro Filho, Lima Barreto, Orlando Corrêa Lopes, Manuel Marques Bastos, José Puicegur, Diamantino Augusto, José Oiticica, José Romero, Edgard Leuenroth, Felipe Gil Sousa Passos, Pedro Catalo, João Penteado, Neno Vasco, Adelino Pinho, Giovani Rossi, Gigi Damiani, Artur Campagnoli, José Marques da Costa, Rodolfo Felipe, Isabel Cerrutti, João Perez, Antonino Dominguez, Manuel Perez, Romualdo de Figueiredo, Juan Puig Elias, Maria Lacerda de Moura, Rafael Fernandes, Angelina Soares, Paula Soares, Elias Iltchenco, Frederico Kniestedt, Jesus Ribas, Cecílio Vilar, Oresti Ristori, Maria Lopes, Manuel Moscoso, Polidoro Santos, Amilcar dos Santos, Pedro Carneiro, Atílio Peçagna, Rudosindo Colmenero, Maria Silva, Maria Rodrigues, Pietro Ferrua, Pedro Ferreira da Silva, Câmara Pires, Ramiro de Nóbrega, Maria Valverde, José Simões, Manuel Lopes, Vitorino Trigo, Mariano Ferrer, Luisi Magrassi, Sofia Garrido, Joaquim Leal Junior, Lírio de Resende, Jaime Cubero e tantos outros intelectuais e operários a quem se homenageia, mesmo ausentes...



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In: Universo Ácrata. Florianópolis: Editora Insular, 1999
04/29/2005
O surgimento do anarquismo no Brasil
O anarquismo no Brasil é algo especial- é favorável em alguns pontos e desfavorável em outros. Ele derivou principalmente da literatura e experiências socialistas européias.
Seu desenvolvimento, contudo, resultou da própria experiência brasileira embora a evolução de sua teoria e prática tenha mudado de maneira semelhante à do movimento anárquico europeu. O lado ruim é a baixa instrução das massas populares, aqueles que sabem ler são a minoria e os que sabem escrever são mais raros ainda.
Edgar Rodrigu,es exalta que no Brasil, as primeiras experiências anarquistas foram antes mesmo da chegada dos imigrantes: nos quilombos. Lá, tudo era de todos, terras, produção agrícola e artesanal: cada um retirava o necessário.
Depois por volta de 1890, o sul do Bra,sil teve uma fracassada experiência anarquista, financiada pelo imperador.
No fim do século XIX, as aspirações anarquistas no Brasil ganharam vigor. A greve de 1917 foi comandada em sua maioria por anarquistas, a infinidade de jornais libertários da époc,a inclusive atestaram a força e organização dos anarquistas do Brasil na época.
A primeira iniciativa dos anarquistas brasileiros foi tentar expandir o seu trabalho através do voluntarismo. Os primeiros jornais anarquistas e anarco-sindicalistas tentara,m se sustentar apenas de contribuições, porém, os militantes eram poucos e não possuíam muitos recursos econômicos. Assim, poucos foram os jornais anarquistas que publicaram mais de cinco números, todos pediam exaustivamente contribuições em seus editoria,is. A terra livre, o jornal melhor sucedido antes da primeira guerra mundial, só editou setenta e cinco números em cinco anos. O tempo passava e os anarquistas procuravam um suporte financeiro mais eficaz, passaram a vender assinaturas; usaram de recursos, outrora considerados corruptos, como rifas e festas.
As teorias e táticas do anarco-sindicalismo infiltraram se no Brasil através de livros do teóricos sindicalistas residentes na França. Como em todos países onde penetraram essas teorias difundiram se,no Brasil através da imprensa, de panfletos, e das decisões dos congressos operários dominados por anarco-sindicalistas.
"A ação direta era a bandeira do sindicalismo revolucionário" . Cada ação direta, greves, boicotes, sabotagens, etc, era considerada, um meio dos trabalhadores aprenderem a agir de uma maneira solidária na sua luta por melhores condições de trabalho, contra o seu inimigo comum, os capitalistas. Cada uma dessas ações diretas é uma batalha na qual o proletário conhece as necessidades da,revolução por meio de sua própria experiência. Cada uma delas prepara o trabalhador para aação final: a greve geral que destruirá o sistema capitalista.
Nestas ações, considerava violência algo aceitável, sendo justamente este o fato que distinguia o an,arco-sindicalismo das outras formas de sindicalismo brasileiras. A sabotagem, eram considerada especialmente eficaz para o proletariado, se não pudessem entrar em greve, estes, poderiam agredir seus exploradores de outra forma, empregando a filosofia de q,ue para um mau pagamento há um mau trabalho. A destruição de equipamentos tocaria no ponto fraco do sistema, pois as máquinas são mais difíceis de se substituir do que os trabalhadores.
Hoje em dia, ainda há no Rio e na Bahia jornais anarquistas, que pub,lica a história do anarquismo e edita anarquistas brasileiros.

texto da une

Agosto de 1992. Com a força da contestação, os estudantes secundaristas ultrapassam os limites da sala de aula e saem às ruas para pedir o impeachment do Presidente Fernando Collor de Mello. Insatisfeitos com os rumos do governo, eles fazem ecoar seus direitos de cidadãos e exigem a ética na política. Ficam conhecidos como os "caras pintadas".

Os movimentos estudantis no Brasil têm uma longa história de lutas que passa pela libertação dos escravos e pela proclamação da República. Mas foi a partir da criação da UNE - UNIÃO NACIONAL DOS ESTUDANTES -, no dia 13 de agosto de 1937, que os estudantes universitários se organizam para lutar pela construção da democracia e justiça social no Brasil.


Passeata da UNE em 1942 A UNE participa de movimentos importantes: manifesta-se contra o regime nazi-fascista que se instaurava no país com o Estado Novo; exige uma posição do Brasil contra o Eixo durante a II Guerra Mundial; e luta pelo fim da ditadura Vargas.


Em 1947, com o ideal nacionalista, os estudantes aderem à campanha "O Petróleo é Nosso". Nos anos 60, a UNE, somada às UEEs, representações estaduais de estudantes universitários, coloca-se ao lado dos movimentos populares.

O país atravessa um processo de transformações sociais, com movimentos trabalhistas e sindicais apoiados pelos partidos de esquerda. Cresce a instabilidade política quando Jânio Quadros renuncia e sobe ao poder o petebista João Goulart.
Jango, como fica conhecido, propõe reformas de base para o desenvolvimento do país com justiça social.

Sintonizada com a idéia de mudanças, a UNE cria os Centros Populares de Cultura e leva as discussões dos problemas sociais brasileiros, por meio do teatro, cinema e da música, para pontos distantes do país.

Na greve geral de 1962, a União Nacional dos Estudantes se une a Jango na luta pela reforma educacional. Eles reivindicam a ampliação do ensino gratuito e a democratização da estrutura universitária.

Manifestação da UNE
pelas reformas de base

31 de março de 1964: Insatisfeitos com os rumos do governo Jango, os militares, apoiados por setores sociais conservadores, dão o golpe de Estado que leva o Brasil para uma longa ditadura militar.


Passeata da UNE contra
o acordo MEC/USAID No dia 1° de abril, a sede da UNE é incendiada no Rio de Janeiro.Os estudantes tentam resistir ao golpe militar. Mesmo sem sede a UNE continua ativa, na clandestinidade, criticando a intervenção norte-americana na educação brasileira, estabelecida no acordo MEC/USAID.


1968: enquanto o Brasil vive tempos de violenta repressão, explodem em vários países as manifestações estudantis. Apesar das questões específicas nacionais, há outras que são comuns a todos como a guerra, a justiça social, a liberdade de expressão...

No Brasil, o movimento estudantil também se intensifica. Mesmo sob forte repressão, líderes estudantis atendem a convocação da clandestina UNE para o seu 30° Congresso, realizado em Ibiúna, interior de São Paulo. O encontro é interrompido com a invasão da polícia, que prende centenas de estudantes.


Estudantes sendo presos
Ibiúna - SP

Com a decretação do Ato Institucional número 5, os cidadãos brasileiros vivem a violência: direitos políticos cassados, intelectuais demitidos do serviço público, presos políticos torturados e desaparecidos.
Com o AI-5 em vigor, os movimentos estudantis de massa desaparecem para voltar no final da década de 70. Desta vez, para lutar pela anistia e pela volta ao regime democrático. A UNE volta à legalidade em 1985. Ressurgem grêmios e centros estudantis.


Manifestação dos Caras Pintadas Em 1992, os estudantes de todo o país manifestam-se a favor do impeachment do Presidente Fernando Collor de Mello. Os jovens secundaristas pintam o rosto e se juntam a outros setores sociais na luta contra a corrupção e pela ética na política.


Roteiro: Solange Martins
Conheça a história da UNE


Mais do que o órgão de representação dos estudantes universitários, a União Nacional dos Estudantes (UNE) é uma das principais organizações da sociedade civil brasileira, com uma bela história de lutas e conquistas ao lado do povo brasileiro. A UNE foi fundada em 1937 e ao longo de seus 70 anos, marcou presença nos principais acontecimentos políticos, sociais e culturais do Brasil. Desde a luta pelo fim da ditadura do Estado Novo, atravessando a luta do desenvolvimento nacional, a exemplo da campanha do Petróleo, os anos de chumbo do regime militar, as Diretas Já e o impeachment do presidente Collor. Da mesma forma, foi um dos principais focos de resistência às privatizações e ao neoliberalismo que marcou a Era FHC.

UNE E BRASIL

No dia 11 de agosto de 1937, na Casa do Estudante do Brasil no Rio de Janeiro, o então Conselho Nacional de Estudantes conseguiu consolidar o que já havia sido tentado diversas vezes sem sucesso: a unificação dos estudantes na criação de uma entidade máxima e legítima. Desde então, a UNE começou a se organizar em congressos anuais e a buscar articulação com outras forças progressistas da sociedade.



A UNE já nasceu como uma das principais frentes de combate ao avanço das idéias nazi-fascistas no país durante a Segunda Guerra Mundial. Os estudantes organizados também promoveram, em 1947, um dos mais importantes movimentos de opinião pública da história brasileira: a campanha “O Petróleo é nosso”, série de manifestações de cunho nacionalista em defesa do patrimônio territorial e econômico do país, que resultou na criação da Petrobrás.

Durante os anos 50, houve muita disputa pelo poder na entidade, um embate diretamente ligado aos principais episódios políticos do país como a crise política do governo Vargas que levaria ao suicídio deste presidente em 1954. Após o governo de Juscelino Kubitschek, foram eleitos Jânio Quadros e João Goulart. Nesse período a União Nacional dos Estudantes e outras grandes instituições brasileiras formaram a Frente de Mobilização Popular. A UNE defendia mudanças sociais profundas, dentre elas, a reforma universitária no contexto das reformas de base propostas no governo Jango.



A partir do golpe de 1964, tem início o regime militar e a história da UNE se confunde ainda de forma mais dramática com a do Brasil. A ditadura perseguiu, prendeu, torturou e executou centenas de brasileiros, muitos deles estudantes. A sede da UNE na praia do Flamengo foi invadida, saqueada e queimada no dia 1º de Abril. O regime militar retirou a representatividade da UNE por meio da Lei Suplicy de Lacerda e a entidade passou a atuar na ilegalidade. As universidades eram vigiadas, intelectuais e artistas reprimidos, o Brasil escurecia.



Apesar da repressão, a UNE continuou a existir nas sombras da ditadura, em firme oposição ao regime, como célebre passeata dos Cem Mil no Rio de Janeiro em 1968. A entidade foi profundamente abalada depois da instituição do AI-5 e das prisões do congresso de Ibiúna. Mesmo assim, o movimento estudantil continuou nas ruas, como nos atos e missa de 7º dia do estudante da USP, Alexandre Vannucchi Leme, e organizando protestos por todo o Brasil reivindicando mais recursos para a universidade, defesa do ensino público e gratuito, pedindo a libertação de estudantes presos do Brasil. Em 1979, a partir da precária reorganização da UEE-SP, iniciou-se a reconstrução da UNE no célebre Congresso de Salvador. Em 1984, a UNE participou ativamente da Campanha das "Diretas Já" e apoiou a candidatura de Tancredo Neves à Presidência da República.



Com a força recuperada, o movimento estudantil, representado pela UNE e pela UBES (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas), foi o primeiro a levantar a bandeira pela ética na política em 1992, durante as manifestações pró-impeachment de Fernando Collor. Milhares de estudantes “caras-pintadas” influenciaram a opinião pública com a campanha “Fora Collor” e pressionaram o ex-presidente à renúncia.

Durante o governo Fernando Henrique Cardoso, a União Nacional dos Estudantes se manteve firme e denunciou o ataque neoliberal ao país, repudiando as privatizações, os privilégios ao capital estrangeiro e o descaso com as políticas sociais e com a educação. Os estudantes tiveram papel marcante nos anos FHC sempre defendendo o ensino público de qualidade e democrático.



A eleição de Lula em 2002 teve o apoio da União Nacional dos Estudantes, após um plebiscito promovido das universidades. Com uma postura independente, mas alinhada às iniciativas de mudança em relação ao neoliberalismo. Desde o início do governo, a entidade se mobilizou pela substituição do Provão por um novo modelo de avaliação das universidades e levantou os debates sobre a reforma universitária, participando ativamente no debate do projeto sobre os rumos da universidade brasileira, e ainda, de punhos erguidos para alterar a cara de nossas universidades: investindo da educação pública e regulando o setor privado.

UNE E CULTURA

A UNE foi precursora de importantes movimentos culturais brasileiros. O Centro Popular de Cultura (CPC) é o mais famoso deles que e nos anos 60 animou a cena artística brasileira com novas e ousadas experiências no campo da pesquisa e da produção cultural. O CPC não foi a primeira tentativa da entidade na área cultural, mas foi a experiência mais vitoriosa e que se tornou um marco da cultura brasileira, unindo artistas, intelectuais e o movimento estudantil. O CPC tinha uma produção artística própria e não se limitava a aglutinar grupos de artistas já existentes: chegou a fundar um selo de discos, uma editora de livros, além de realizar produtos culturais importantes como o filme Cinco Vezes Favela. Participaram do CPC nomes como Arnaldo Jabor, Cacá Diegues, Ferreira Gullar, Vianinha, entre outros.

A parir de 1999, o trabalho cultural da entidade foi retomado com vigor durante as Bienais de Cultura e Arte da UNE. Nsses eventos foram lançadas as bases de um ousado projeto: a criação do Circuito Universitário de Cultura e Arte, os CUCAs. Mais do que um resgate dos antigos CPC´s o Circuito surgiu como um modelo de mapeamento e valorização da cultura nacional dentro das universidades. Desde então, a UNE vem batalhando pela criação de um Circuito em cada estado brasileiro. Para dar corpo à essa iniciativa, diretores da UNE, intelectuais, artistas e uma equipe técnica percorreram 15 cidades por todo país, entre os meses de outubro e novembro de 2004, com a “Caravana Universitária de Cultura e Arte – Paschoal Carlos Magno”, que ampliou a articulação e mobilizou os estudantes para criação de novos CUCA’s nas universidades brasileiras.

Hoje já são dez núcleos do CUCA consolidados pelo Brasil, Recife/PE, Campina Grande/PB, Salvador/BA, Vitória/ES, Porto Alegre/RS, Curitiba/PR, Barra do Garça/MT, Brasília/DF, Rio de Janeiro/RJ e São Paulo/SP. O CUCA cresceu e atualmente integra o projeto “Pontos de Cultura” do MinC. A UNE caminha agora para a realização de sua V Bienal de Arte, Ciência e Cultura, a ser realizada no início de 2007, no Rio de Janeiro
Mulher e Igualdade


Tudo é absorvido pela mídia e, como era esperado, o dia 8 de março, o dia da mulher, foi apresentado em jornais e tevês de modo superficial, asséptico, com lindos versos, com imagens prontas de belas artistas que se destacaram nos últimos meses. Mas esta questão não é superficial e o pior é que está dentro da gente, em nossos sentimentos, em nossos comportamentos, na família, no trabalho, na educação que tivemos, na educação que passamos para as próximas gerações. Nosso dia-a-dia passa, e que passe. Mas para que nossas idas e vindas resultem em algum crescimento, precisamos não deixar passar sem comentários algumas questões, e em função da data, a questão da mulher.

Para toda a minoria que é discriminada pela sociedade, é importante a união e a luta por seus direitos. Aí já começa um problema, pois quando nos unimos e levantamos as questões, com o objetivo de apontar e solucionar um conflito já existente, muitas vezes, quem está de fora, especialmente quem se sente ameaçado com esta postura, se levanta contra. E mais conflitos são criados. Na questão da mulher, acontece de, tanto o homem, como as próprias mulheres, se esquecerem de que não estão lutando uns contra os outros, mas visando alcançar a igualdade de direitos e deveres.

Obviamente que as pessoas são diferentes. E igualdade de direitos e deveres não implica terem que agir da mesma forma. A igualdade começa pelo respeito mútuo, pelo mesmo direito de ser feliz e ter prazer, pelo direito que se tem de optar, escolher, ouvir e ser ouvido, dividir as tarefas, as tristezas e as alegrias.

Também é importante analisar a dificuldade que as pessoas têm hoje em se unir, independentemente do motivo. Cada um se preocupa com seu próprio umbigo. Caminhamos como cavalos com antolhos.

E este individua-lismo é tão presente que não podemos nem criticar, é uma postura que está sendo imposta à humanidade. A culpa deste individualismo generalizado, sabemos, é do modo capitalista, que atinge da mesma forma homens e mulheres. Respiramos capital, vivemos capital. E, também a questão da mulher está mesclada de capital. Acontece que as mulheres que conseguem se posicionar no mercado de trabalho, de modo geral conseguem ter suas posições e necessidades mais bem aceitas e atendidas do que as que ficam em casa ou não conseguem uma boa situação e educação. Por isso as mulheres caem, junto com outras minorias, no famoso paradigma de que vencer na vida é agir como age quem está no poder, invariavelmente dominador, autoritário, explorador e destruidor. Porque, é verdade, quem ganha bem e abre a plumagem, é respeitado. E quem não quer ser respeitado, e viver bem e com mordomia? Isso resulta em que a mulher lute para se igualar ao homem autoritário, mas esquece da luta maior que é a luta pela igualdade de direitos e deveres para todos.

Outro aspecto importante a ser analisado, se refere aos grupos que se formam na luta contra as discriminações, ou a favor de seus direitos. Muitas vezes estes grupos aparecem com um discurso em torno da igualdade, apontando os preconceitos e arrochos a que estão sendo submetidos, mas acabam criando burocracias, hierarquias, segregações, autoritarismo. E muitas vezes presenciamos palavras como solidariedade e igualdade serem ditas para justificar a união de um grupo e a distribuição de tarefas, mas, em vez de avançarem em direção à verdadeira igualdade de direitos e deveres, são criadas estruturas internas e subgrupos que se dizem revolucionários mas, na verdade, almejam controlar, ditar as regras. Ou seja, dentro do próprio grupo são criadas diferenciações.

Muitas vezes o indivíduo, ou grupos, ou organizações têm dificuldade em sair de seu mundinho e acabam presos em preconceitos individuais ou criando pequenas violentas gangs que brigam entre si.

Em geral, a mídia critica as utopias. Incorporam à palavra utopia o sentido de irrealidade, fantasia, quimera. Ridicularizam as utopias e focalizam apenas o agora, o presente. Entretanto, utopia significa ter um objetivo, e o que está faltando, não só para o indivíduo, ou para as comunidades, mas para toda a humanidade, é justamente uma visão de conjunto e um objetivo maior. Criticam as utopias, mas hoje, em meio a tanta violência e miséria, a beleza do mundo está justamente na beleza das utopias. Sem objetivo não se consegue traçar o rumo.

O anarquismo - que significa sem hierarquia, sem dominantes ou dominados - procura a igualdade de direitos total da humanidade, a solidariedade total, o respeito ao ser humano. Aponta as discriminações a fim de mostrar a necessidade da igualdade. Direito à saúde, à educação, ao lazer, ao ofício, ao abrigo, ao prazer. Direito de ser gente, de se respeitado, direito a ser diferente, direito à igualdade de direitos.

Por falar em anarquismo e em mulheres, não podemos deixar de citar algumas das mulheres anarquistas que se destacaram neste século, de leitura indispensável, como Emma Goldman, Maria Lacerda de Moura e Louise Michel.

As mulheres, os negros, os sem-terra, os desempregados, os subempregados, os deficientes, os miseráveis, assim como toda e qualquer minoria têm que se defender ou serem defendidos. A luta tem que persistir e, se ainda não existe, que seja erguida. Mas, sem transformar qualquer minoria em grupo fechado. Porque o objetivo é a humanidade livre, sem barreiras, igualdade de direitos e deveres, saúde, educação e justiça igual para todos, dignidade para o povo. E quando se vê este objetivo maior que engloba toda a humanidade, se entende que a luta contra as segregações, contra os preconceitos, é uma luta de todos, e não apenas das minorias discriminadas. Porque enquanto houver discriminação, não haverá igualdade e liberdade.



Libera edição 82, Março de 1998
Anarquismo e Feminismo

As novas formas de "relações conjugais" e de "relações domésticas" sugerem um novo modelo de feminilidade: o da "mulher liberada", segundo um tipo de liberação que convém a economia capitalista e as políticas dos Estados governantes.

O princípio básico desta feminilidade é a igualdade na diferença. De um lado, as mulheres adquiriram os mesmos direitos e deveres que os homens, no que diz, respeito ao matrimônio, a família ao trabalho e à vida política social. Do outro lado, as diferenças específicas homem - mulher devem e precisam ser preservadas.

Esta especificidade refere-se a toda uma série de características físicas, intelectuais e emocionais que são consideradas típicas da natureza feminina. No entanto, tal conceituação de feminilidade não mais eficiente para descrever a mulher no mundo atual Antes, impõe e estabelece um novo estereótipo normatizado e normalizado da mulher.

Os componentes clássicos da mulher submissa eram: heterossexualidade, passividade, narcisismo e sentimentalismo. Hoje, os componentes básicos da mulher liberada camuflam os anteriores e adaptam a mulher às características deste novo ser emergente: individualismo, autonomia, força, autocontrole, eficácia e racionalidade.

Não obstante as suas contradições, este modelo e mulher justifica psicologicamente e permite socialmente ao mesmo tempo a relação conjugal, a maternidade e, na esfera das relações econômicas, a divisão do trabalho com o homem.

No contexto político, a feminilidade é objeto de negociações de todo tipo entre os movimentos feministas e as instituições que produzem, difundem e inculcam ideologias nas sociedades modernas: o Estado, os meios de comunicação e o meio cultural.

O modelo da "mulher liberada" é, basicamente, o reflexo das relações de poder entre esses dois agentes: Os movimentos feministas e os Estados governantes. Este novo modelo de feminilidade não só torna possível formas "avançadas" de opressão sobre a "mulher liberada", como também, constitui o fator - chave da reversibilidade do movimento de liberação feminina, enquanto movimento cooptado pelo Estado.

A história das mulheres é uma história de avanços e recuos. Em certos períodos históricos, as mulheres adquiriram direitos formais e informais que, em outros períodos, foram perdidos. Por outro lado, outros foram conquistados, de maneiras diversas e em contextos diversos, e assim por diante.

Toda mudança econômica, social e política relevante implica em conseqüências positivas ou negativas para as mulheres. Melhorias em sua condição são sempre fruto de uma mobilização ativa, inserida na contradição dessas mudanças.

A ideologia da feminilidade reflete a variação, no tempo, de uma essência mantida imutável: "o eterno feminino". A eficácia do feminismo, a curto e a longo prazos, depende, em grande parte, da capacidade das mulher em impedir a formação e a institucionalizacão de novas variantes do "eterno feminino", mesmo que venham apresentadas como parte integrante do processo de liberação da mulher.

O potencial de força das mulheres somente poderá ser mobilizado e usado em favor de sua verdadeira liberação, se o movimento feminista trilhar um caminho verdadeiramente revolucionário. Em outras palavras, se optar por uma mudança da ordem social e não na ordem social.

O anarquismo oferece instrumentos de organização e de luta revolucionária capazes de tornar realidade o potencial subversivo do feminismo.

Em sua origem, o feminismo representou um sério golpe nas estruturas de poder, em sua forma mais elementar e básica: o controle interpessoal, no jogo recíproco de força e consenso.

Mas a força do protesto feminista pode-se voltar contra as mulheres, se, em sua luta contra a dominação, decidirem aliar-se às instituições detentoras de poder: os partidos políticos e os aparelhos de Estado.

O Estado tornou-se (ou foi convertido em) interlocutor privilegiado do movimento feminista moderno, desde seu surgimento, e de forma cada vez mais íntima. Em seu diálogo com o Estado, o movimento das mulheres, ao formular suas reivindicações principais, terminou por assimilar-lhe a linguagem.

Dessa forma, adquiriram elas direitos que o Estado pode garantir, reformas que o Estado pode realizar e recursos que o Estado pode distribuir.

Ainda o Estado apresenta-se como agente garantidor de mudanças em esferas privadas que ele (Estado) não pode realizar diretamente, coma no caso de relações sexuais e afetivas homem – mulher.

Da mesma maneira que a movimento operário, especialmente em suas formas sindicais institucionalizadas, o movimento feminista é, a todo momento, levado a negociar com o Estado. Por sen turno, o movimento feminista dispõe-se a esse tipo de negociação porque lhe parece que somente esta forma mostra-se capaz de impor respeito a maridos, patrões, pais, concidadãos, colégios, dirigentes de todo tipo, intelectuais, etc.

Essa interação movimento feminista - Estado é coerente com a lógica dos sistemas sociais vigentes. De fato, a função principal do Estado moderno é expressar e neutralizar as tensões e os conflitos causados por atritos entre sujeitos sociais, especialmente as relativos a classes sociais e sexos.

Todo movimento de protesto, a qualquer nível de luta, é necessariamente remetido ao Estado. E este dispõe dos recursos e mecanismos necessários para neutralizá-lo. Pode e tem reprimido protestos com o uso da violência, mas também tem e pode determinar realizar modificações funcionais do sistema, com vistas a reduzir as tensões, sem comprometer a sua autoridade e perpetuação.

A história do movimento operário, das lutas raciais, dos movimentos estudantis oferecem uma farta ilustração de como opera o mecanismo estatal de controle nas Sociedades modernas.

Sem dúvida, as mulheres obtiveram, sobretudo por parte do

Estado, o reconhecimento de certos direitos e melhorias parciais de sua condição. Na maior parte dos casos, estas vitórias das mulheres tornaram-se, também, vitórias do Estado, na medida em que significaram, em certa medida, um aumento da capacidade do Estado de controlá-las e a seu movimento.

Alguns organismos instalados a nível governamental têm toda a aparência de mecanismos permanentes de controle sobre as mulheres e seu movimento, como, por exemplo, comitês, comissões, institutos montados para estudar a mulher, formular soluções para seus problemas e, até, para montar e implantar projetos feministas.

Estes organismos e instituições multiplicam-se e proliferam em sociedades nas quais a movimento feminista tem provocado fortes impactos e possui articulações regionais e internacionais.

A despeito dessa interação, as relações mulheres - Estado estão longe de ser harmoniosas. Isso porque a Estado não resolveu - e nem pode resolver - as contradições que alimentam a revolta e a resistência das mulheres. Se, por um lado, oferece-se como um interlocutor e lhe fornece canais legais de reivindicações, por outros neutraliza seu potencial revolucionário e corrói seu potencial de libertação.

0 movimento feminista proclama, como principio, que o privado é político. Séculos de opressão demonstram que a afirmação é verdadeira sob todos as seus aspectos.

É chegado o momento, no entanto, de uma predominâcia da esfera privada sobre a pública. A primeira é vida e desejo. A segunda é ordem e imposição. Imposição que sempre vem sob a camuflagem de ajudar o desejo, desejo que é sempre posto a serviço da ordem. Porque se trata, aqui, daquele desejo que a ordem programou e daquela imposição que o desejo previu e a ela se sujeitou.

Para subverter este sistema, é necessário superar a linha imaginária que se construiu entre esfera pública e esfera privada. São duas faces da mesma moeda: a Estado - família e a família - Estado.

É necessário liberar a consciência para o fato de que, neste âmbito de solidão e luta, a moeda corrente é o controle.

Além de outras formas que devem ser liberadas, está aquela a que me referi no inicio - a feminilidade – e tal só pode ser feito se entendermos que é o poder que a produz e que são as mulheres as suas prisioneiras.

Nicole Laurin-Frenette
Professora de Sociologia na Universidade de Montreal
Membro do Instituto Anarchos,
Montreal Canadá,
in "Volontà", no. 4, 1982.
revista anarquista trimestral
editada na Itália



Revista Utopia #1, primavera de 1988

anarco feminista

O Anarca-feminismo, como o anarquismo, se opõe a todo o tipo de hierarquia. Entretanto, os e as anarca-feministas dedicam maior atenção à desigualdade existente entre os sexos. Os e as anarca-feministas acreditam que as mulheres constituem a classe mais explorada pelo capitalismo, porque seu trabalho doméstico e de reprodução é considerado sem valor econômico. A exploração e dominação da mulher é chamada por eles e elas de patriarcado, o qual é o principal alvo de seu ativismo. Segundo eles e elas, a desigualdade entre os sexos é o principal entrave para que homens e mulheres da classe trabalhadora possam se unir e lutar pelos seus interesses comuns.

O Anarca-feminismo se diferencia do feminismo por considerar que direitos conquistados dentro da sociedade capitalista serão sempre superficiais, visto que só poderão ser desfrutados pela classe dominante.

O termo Anarca-feminismo foi inventado durante a "segunda onda" do movimento feminista, ocorrida no final dos anos 60. Entretanto, o movimento é mais comumente associado a autoras do início do século XX, como Emma Goldman e Voltairine de Cleyre, bem como algumas autoras da "primeira onda", como Mary Wollstonecraft. Durante a Guerra Civil Espanhola, o grupo Mujeres Libres defendia idéias anarquistas e feministas.

No Brasil, a anarquista feminista mais conhecida foi Maria Lacerda de Moura.

O Anarca-feminismo, como o anarquismo, se opõe a todo o tipo de hierarquia. Entretanto, os e as anarca-feministas dedicam maior atenção à desigualdade existente entre os sexos. Os e as anarca-feministas acreditam que as mulheres constituem a classe mais explorada pelo capitalismo, porque seu trabalho doméstico e de reprodução é considerado sem valor econômico. A exploração e dominação da mulher é chamada por eles e elas de patriarcado, o qual é o principal alvo de seu ativismo. Segundo eles e elas, a desigualdade entre os sexos é o principal entrave para que homens e mulheres da classe trabalhadora possam se unir e lutar pelos seus interesses comuns.

O Anarca-feminismo se diferencia do feminismo por considerar que direitos conquistados dentro da sociedade capitalista serão sempre superficiais, visto que só poderão ser desfrutados pela classe dominante.

O termo Anarca-feminismo foi inventado durante a "segunda onda" do movimento feminista, ocorrida no final dos anos 60. Entretanto, o movimento é mais comumente associado a autoras do início do século XX, como Emma Goldman e Voltairine de Cleyre, bem como algumas autoras da "primeira onda", como Mary Wollstonecraft. Durante a Guerra Civil Espanhola, o grupo Mujeres Libres defendia idéias anarquistas e feministas.

No Brasil, a anarquista feminista mais conhecida foi Maria Lacerda de Moura.

O Anarca-feminismo, como o anarquismo, se opõe a todo o tipo de hierarquia. Entretanto, os e as anarca-feministas dedicam maior atenção à desigualdade existente entre os sexos. Os e as anarca-feministas acreditam que as mulheres constituem a classe mais explorada pelo capitalismo, porque seu trabalho doméstico e de reprodução é considerado sem valor econômico. A exploração e dominação da mulher é chamada por eles e elas de patriarcado, o qual é o principal alvo de seu ativismo. Segundo eles e elas, a desigualdade entre os sexos é o principal entrave para que homens e mulheres da classe trabalhadora possam se unir e lutar pelos seus interesses comuns.

O Anarca-feminismo se diferencia do feminismo por considerar que direitos conquistados dentro da sociedade capitalista serão sempre superficiais, visto que só poderão ser desfrutados pela classe dominante.

O termo Anarca-feminismo foi inventado durante a "segunda onda" do movimento feminista, ocorrida no final dos anos 60. Entretanto, o movimento é mais comumente associado a autoras do início do século XX, como Emma Goldman e Voltairine de Cleyre, bem como algumas autoras da "primeira onda", como Mary Wollstonecraft. Durante a Guerra Civil Espanhola, o grupo Mujeres Libres defendia idéias anarquistas e feministas.

No Brasil, a anarquista feminista mais conhecida foi Maria Lacerda de Moura.